Uma senhora, velha conhecida e metida a fina, usava essa expressão em vez dos tradicionais “feliz ano novo” ou, mais genérico, “boas festas”. Duvido que o cumprimento fosse sem maldade – eram várias as expressões de sentido dúbio usadas por ela, em situações que causavam desconforto. Pessoas havia que avermelhavam e seguravam o riso...
Ou então, nessa época já se previa que o “ano novo” vai ser sempre pior que o “ano velho” – e ela tentava ironizar a sensação... No entanto, eram tempos de mais inocência, em que o “Ano Velho” era mesmo um velhote – mais decrépito e menos simpático que o Papai Noel da semana anterior – e o “Ano Novo”, um bebê gorducho e sorridente.
Hoje poderíamos inverter essa alegoria cartunística: o bebê saudável e risonho para o ano que finda, e o velhote magro e esfarrapado, se apoiando num cajado, para o ano entrante...
Claro, depois de três centenas de crônicas, os eventuais leitores sabem que otimismo não é das minhas possíveis qualidades – ou defeitos, se preferirem. Mas alguém vê um motivo, discreto e distante que seja, para esperar alguma melhora em alguma coisa? Uma perspectiva que justifique vestir roupa branca e dar uma festa?! Sem dúvida, uma boa ceia e uns espíritos alcoólicos sempre são bem vindos – mas o calendário é pródigo nessas oportunidades. Que a rigor, não são necessárias. Ou então, dá pra perguntar, pra que oportunidades, basta a vontade de fazer o que não se pode nem deve atualmente: juntar uns amigos e abrir umas garrafas...
Em anos recentes, vivemos a falência da democracia: ela funcionava nas cidades da Antiguidade, onde vivia um punhado de pessoas em cada uma, e todos conheciam todos. Então, a maioria vencia e a minoria se convencia. Atualmente, mesmo que a maioria vença – e isso pode ser manipulado para não acontecer - a minoria não se convence e faz escarcéu de suas razões – ou falta delas – nas redes sociais.
Um amigo já pontificou: a saída, seriam “déspotas esclarecidos”. Mas se, de déspotas estamos bem servidos, eles são absurdamente imbecis, despreparados e calhordas. Nem o aviso de que o planeta está em situação de irreversibilidade ambiental os faz pensar um pouco. Fazem a gente pensar que, se fosse possível criar um vírus seletivo de nível ético e cultural, seria a salvação da lavoura...
Portanto, sem solução nem melhoria à vista, seja no ano seja nos que se seguirão. Boa sorte, vamos precisar MUITO dela!