Crônicas da vida urbana
Por Crônicas da vida urbana -
O planeta caçamba
Não é segredo algum: o planeta está acabando, o ponto de irreversibilidade já passou há anos.
Mas continuamos irresponsáveis, consumindo como loucos e o que é pior, desperdiçando, malbaratando recursos e itens que poderiam aliviar a queda livre em direção ao caos.
Temos a culpa de permitir que se apropriem do poder pessoas irresponsáveis, comprometidas com interesses internacionais, frequentemente sem outro motivo que birras pessoais formadas a partir de preconceitos e informações sem credibilidade, quando não apenas superadas.
É simplesmente assombroso o quanto o consumo atual é predador e irresponsável.
Fazem alguns anos, vi um depósito de inservíveis de instituição de ensino, de pé direito muito alto, no qual haviam sido empilhadas milhares de carteiras. Eram móveis de imbuia, e talvez em precárias condições, mas ao investigar por que estavam ali empilhadas como lixo, fui informado que tinham sido vendidas para fábricas de cal, para serem queimadas como lenha.
A coisa é mais estúpida do que supõe nossa vã filosofia. Em primeiro lugar, porque essas carteiras foram substituídas por móveis de fórmica e estrutura tubular precaríssimos, com durabilidade de um ano ou pouco mais? O restauro das carteiras de madeira custaria menos e resultaria em equipamento mais durável. Depois, porque a imbuia é madeira que queima mal, não produz o calor necessário à fabricação de cal.
E assim é com tudo. É mais do que normal encontrar, nas caçambas que vão ser despejadas em depósitos de detritos e lixões, coisas perfeitamente utilizáveis, ou aproveitáveis com um pouco de investimento. Se formos procurar os motivos desse crime, encontraremos razões bem pouco razoáveis, sendo a principal, não corresponderem aos critérios de mercado. Mercado que, lembremos, além de fútil, é de mau gosto – apenas, impõe estéticas e modismos que lhe são convenientes e dane-se o planeta.
É a lógica do capitalismo e, por extensão, a do neoliberalismo: expansão. Uma bolha crescendo num espaço fechado, o momento em que não será mais contida e causará explosão do ambiente, está aí. A mentalidade tacanha e irresponsável de que está tudo bem, não há crime ambiental, dá pra expandir os mercados indefinidamente, não pode ser contrariada sob acusação de subversão e apologia da ingovernabilidade.
Saudades do tempo em que se acreditava no inferno, pelo menos nos consolava a ideia de que um dia os políticos arderiam em chamas eternas, e nós assistiríamos confortavelmente sentados numa nuvem tocando lira.