Não gosto dessas lojas modernas que são apenas um galpão apinhado de eletrodomésticos. São impessoais, o atendimento é precário e a gente, ali, é apenas um consumidor – ao contrário de lojas em que havia uma preocupação com decoração, formando um ambiente, treinamento de pessoal e outros cuidados mais. Sempre se é mal atendido – a tática é que você entre e faça sua escolha sem incomodar os vendedores, sempre insuficientes. Claro, se for caso de roubo, será detectado pelas câmeras – essas sim, sempre presentes. Depois vem a novela da entrega – que foi terceirizada e te obriga a ficar de plantão esperando a boa vontade do caminhão do entregador.
 
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E acho lamentável quando vejo lojas – vale também para restaurantes – que atravessaram décadas oferecendo um ambiente cordial e agradável, de repente se “modernizam”. Continuamos, lá dentro, sendo essencialmente consumidores, mas com tratamento menos respeitoso... O que significa, evidente, que houve homogeneização pelo mínimo múltiplo comum. Porque tem que ser possível um critério de modernização que não seja de mau gosto e atenda exigências comerciais menos agressivamente.
Há ruas, nas áreas antigas das cidades, onde se vê uma sucessão de pequenas “lujinhas” nas quais se tem a sensação de que o tempo parou – e são agradáveis, inteiramente opostas às lojas de shopping. Mercadorias penduradas nas portas ou na rua, nomes que sugerem uma certa coloquialidade. Evidente que há quem as ache precárias – quando, na verdade, são apenas simples e, nessa simplicidade, mais pessoais. Evidente que na real, a presença de uma pessoa ali é com intenção comprar – mas isso é encarado com aquela antiga característica brasileira da cordialidade.
Também não há muita preocupação com um ambiente ou decoração – mas nesse caso, entende-se que os capitais que circulam são muito menos caudalosos... E aquelas prateleiras cheias de mercadorias, podem reservar surpresas interessantes, se a lujinha é meio antigona – tradicional, dá pra dizer. Fazer uma troca, ação tão previsível quanto comum, numa loja grande é um inferno burocrático – na pequena, devolve-se o que não serviu e leva-se a mais adequada.
Claro que as lojas grandes estão mais inseridas no contexto do neoliberalismo – investem o mínimo para tirar o máximo do consumidor – para muito além da hipocrisia dos slogans, liquidações e ofertas, preferencialmente em americanês como apelo ao cosmopolitismo e modernidade dos fregueses.
Que importância tem tudo isso? É a própria vida da cidade que se identifica nessa dialética comercial: cada vez mais pra formigueiro do que pra cidade mesmo...