Crônicas da vida urbana
Por Crônicas da vida urbana -
Mais peste
Dizem as curvas estatísticas que a incidência do vírus chinês está baixando – pago pra ver, e acho isso de um perigo extremo. Não acredito, porque no Brasil, a peste foi mais grave, por ter adquirido cores políticas.
Se as pessoas já estavam louquinhas pra se espalhar, com essa notícia vão se expor ainda mais irresponsavelmente – e “a coisa” pode voltar com gravidade maior ainda. E não só os louquinhos vão ser vitimados – eles vão contaminar pessoas responsáveis, que se cuidaram, observaram quarentena e tomaram todas as precauções. Portanto, nada de baixar a guarda, o inimigo é traiçoeiro e não perdoa.
Alguém já se preocupou em traçar uma “história das pandemias”?! Tendo em vista que elas voltarão, cada vez mais graves e com mais frequência, seria útil para tentar entender afinal o que são.
Achei totalmente por acaso a notícia de uma peste ocorrida em Pernambuco em 1686. É um artigo de Gustavo Barroso, no “Cruzeiro” de Natal de 1955, baseado no relato de um Jesuíta de sobrenome francês, Perier, publicado em 1735.
Este conta que chegaram ao porto – de Recife, acho – uns barris de carne procedentes da “Olanda”, mas o navio tinha feito um demorado percurso pela costa da África. Sem refrigeração, evidente, apenas salgada.
O infeliz que abriu o primeiro barril morreu no ato, depois as pessoas que estavam pelo porto. O “fedor” - é a palavra usada pelo padre – atingiu a cidade e fez um estrago tal que “faltava quem enterrasse os mortos”. Continuou a se espalhar pela costa brasileira, chegando à Bahia e “todo o litoral brasileiro, que tem mais de seiscentas legoas”.
Depois, o relator entra em considerações de caráter dantesco sobre qual deva ser o fedor do inferno, onde apodrecem os pecadores, se uns barris de carne estragada podem causar essa mortandade.
O prof.Barroso estranha que essa notícia não seja confirmada por outros documentos – mas também considera que o padre não tinha por que ficar inventando fake news.
Claro, temos aí que pensar no que se entendia então por “peste” – poderia ser a bubônica, o cólera, ou o antecedente de uma dessas modernas “gripes” da linha covid. Claro que o cheiro, por pior que seja, não mata – principalmente no Brasil, onde o “fedor” da política é pior e mais mortal que qualquer outro. Com ele, saiu dos barris alguma pestilência da pesada.