Crônicas da vida urbana
Por Crônicas da vida urbana -
Passa passa passa
“Tout passe, tout casse, tout lasse…” provérbio francês
• Passa uma revoada de periquitos, mais brincando do que voando ...
• Passa um morcego em seu voo esquisito, como se estivesse patrulhando Gothan City...
• Passa uma nuvem de mosquitos, em busca de vítima para seu vampirismo...
• Passam raios de sol através da cúpula de ouro das araucárias...
• Passam mais passarinhos, em disputa para ver quem chega antes ao ninho...
• Passa uma brisa de fim de tarde, anunciando que a noite será agradável...
• Passam as ondas sonoras do sino da igreja, anunciando que é hora de encerrar as atividades...
• Passa um Embraer, roncando a ansiedade dos passageiros pela aterragem...
• Passa, mais acima, um voo transcontinental, flecha dourada deixando uma linha branca no azul escuro...
• Passa um bando de pombos, como gostava o Raimundo Correia: “de volta aos pombais” ...
• Passa um gato da vizinhança, cautelosamente, de um telhado para outro...
• Passa a língua do cão no meu braço, avisando que também está vendo as coisas passarem...
• Passa outro bando de hematófagos zumbindo em busca de seu tipo de sangue preferido...
• Passa uma nuvenzinha solitária e apressada, para não sei qual compromisso climático ainda essa noite...
• Passa uma onda de perfume do “jasmim-de-poeta” do jardim...
• Passa, nos confins do bairro, o “Carro do Sonho” – mas não vende os sonhos de sonhar, só os de comer...
• Passa o transporte escolar, deixando em casa crianças ansiosas para brincar no quintal com o cachorro...
• “Passa passa, passará, derradeiro ficará” – canção do tempo em que as crianças brincavam de roda e não de celular...
• Passam os últimos raios de sol, vindos do horizonte com o aviso: mais luz, só amanhã...
• Passa a lua por trás de uma árvore sem folhas, fazendo doce ironia à pretensão solar...
• Passa em algum lugar “longe no tempo e no espaço”, um trem deixando no ar seu apito de outros tempos...
• “Passa, passa, passa!” diziam as pessoas quando as galinhas ousavam entrar na cozinha...
• “Passa longe passa perto, só depende do que é certo”, dizia minha avó...
• “No alto daquele morro/ passa boi passa boiada/ só aqui em casa não passa/ aumento na minha mesada” – adolescentes de umas décadas atrás...
- “Ah, os pregadores! Lá os encontrareis com mais passos, cá com mais paço.” Pe. Antônio Vieira