Crônicas da vida urbana
Por Crônicas da vida urbana -
Que cidades deixaremos?
Nossa geração está numa idade em que começamos a pensar que mundo deixaremos à próxima leva de humanos. À parte do que acontece no planeta como um todo, minha sensação pessoal é de que, particularmente, as aglomerações urbanas - vá lá, cidades – estão no ponto de inflexão para se tornarem inviáveis.
Usando como exemplo esta cidade em que sempre vivi – ou as que frequento com alguma insistência - vejo construções brotando de todo lado, cada vez mais volumosas e menos sustentáveis do ponto de vista ambiental. Isto é, por mais que alardeiem captação de energia solar e de águas pluviais, é evidente que a implantação e uso desses equipamentos não se faz sem um custo de matérias primas que pesam enormemente ao serem extraídas, industrializadas e comercializadas, ao preço de catástrofes ambientais tipo Brumadinho. Cada construção vertical onera a cidade em gastos não apenas de água – estamos começando a perceber que logo logo logo os mananciais não darão conta do crescimento urbano. Da mesma forma quanto à eletricidade, e não pesarão na nossa vida urbana apenas as faltas, mas com a mesma intensidade, os excessos: de lixo, de carros, de sobrecarga das redes de esgotos.
O que tem sido apresentado como paliativo – reciclagem de lixo, bicicletas e motos, por mais que apresentem pequenos resultados positivos a curto prazo, não são suficientes, e passado o tal curto prazo, voltam a ser problemas - com maior gravidade. Essas “soluções” não são soluções, são maquiagens – como hortas comunitárias, paredes verdes, floreiras com empostação de jardins. São ações beneméritas e causam alívio circunstancial em algumas comunidades – mas é só pensarmos na insignificância dessas micro-ações diante dos incêndios criminosos nas florestas, boçalmente negados pelas autoridades, para entender o quanto são irrelevantes diante da situação de iminência de catástrofe que vivemos.
Claro que é melhor que essas atitudes existam do que ignorar o mínimo de alívio que representam. O que é uma senhora deixar de colorir os cabelos diante de um garimpeiro que despeja mercúrio nas florestas? Só mesmo a senhora fica em paz com sua consciência, e esquece o desastre que é destruição das matas.
O politicamente correto dá margem a uma insana sequência de atitudes que, no fim das contas, trabalha contra uma consciência planetária – a qual, atuando sobre a política, poderia representar alguma coisa de valor para as cidades em particular e o planeta em geral. Mas me fica sempre a sensação de que já é tarde demais.