Crônicas da vida urbana
Por Crônicas da vida urbana -
O vírus chinês e a cidade
Todas as epidemias – ou vá lá, as pandemias – pelas quais passou a humanidade, tiveram seus epicentros nas cidades. Não se sabe de onde vieram, e desapareceram da mesma forma: quando bem entenderam.
Histórias de origem em ratos, macacos verdes, morcegos e outros bichos, têm aquela cara de episódio mal contado: “ah, inventem outra!” Conspirações à parte, a causa é mesmo a superpopulação.
Não se pode duvidar que, num certo sentido, tenham sido criadas e desenvolvidas como mecanismo de defesa das próprias cidades: o adensamento as geraria, a partir de metamorfoses e mutações genéticas. O vetor – o intermediário antes do ser humano – da mesma forma, é adaptado a partir do acervo existente nas cidades. Dos ratos aos mosquitos – ou, numa etapa seguinte mais aperfeiçoada, os próprios humanos, sem precisar de ajuda, se contaminam uns aos outros.
A literatura tem referências – por exemplo, em “I promessi sposi”, de Alessandro Manzoni – em que, no pânico da epidemia, pensa-se na área rural como fuga, lugar onde é mais difícil ser contaminado, um ambiente saudável por excelência. Em parte o ambiente pode ser mais saudável mesmo, mais livre da poluição e da densidade; em parte a propagação é mais difícil pela rarefação dos contatos e interações.
Entendo que o principal fator do pânico atual se relaciona com fatores que não são propriamente o bem estar das pessoas, mas redução de mercados de consumo, de pagadores de impostos, de peso nos sistemas de saúde oficiais e privados. Tudo com boa articulação midiática, entenda-se.
Há otimistas preconizando que depois de superado, o Vírus Chinês deixará como herança, humanos mas solidários entre si, com mais consciência do problema das desigualdades sociais – enfim, melhorzinho um pouco, o que já seria bastante.
Permitam-me duvidar: já houve situações como essa no passado e não consta que tenham causado qualquer melhora nos sentimentos éticos do ser humano.
Evidente que se pode pensar por outro lado: nas áreas rurais, provavelmente as pessoas se preocupam com a pouca ou nenhuma existência de sistemas de saúde em caso de necessidade, o que também é verdade.
Há quem compare a situação de pandemia com a das guerras e conflitos armados: restrições à mobilidade e sociabilidade, a pessoa ao meu lado na fila pode ser um espião ou no caso do Vírus Chinês, estar contaminada. Existirão analogias entre as situações, mas o conflito armado é explícito, sabe-se de onde vêm os projéteis: no caso do vírus, pode estar em qualquer lugar.
Key Imaguire Junior