PEQUENOS NEGÓCIOS
Empreendedores ganharam força com a pandemia, mas categoria tem novos desafios
Brasil bateu recorde de abertura de MEIs na pandemia, com marca de 11 milhões de novos negócios
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Em meio à pandemia, o Brasil bateu recorde de microempreendedores individuais (MEIs), passando a marca dos 11 milhões de pessoas com negócio próprio. A importância do empreendedorismo ganhou evidência nessa semana pelo dia Nacional das Micros e Pequenas Empresas. Mas apesar do reconhecimento na geração da maior parte dos empregos, os pequenos negócios ainda seguem com dificuldades pra se manter num mercado cada vez mais competitivo.
Balneário Camboriú, Itajaí e Camboriú somam cerca de 45 mil pequenos empreendedores registrados. Segundo a associação de Micro e Pequenas Empresas e Empreendedores Individuais de Balneário Camboriú (Ampe), o crescimento de MEIs vem aumentando numa média de 8% ao ano, numa alta que traz a necessidade de ações diferenciadas para os empreendedores enfrentarem os desafios e alavancarem os negócios.
Em Balneário Camboriú, a esteticista e designer de sobrancelhas, Clara Luiza da Graça Lutz de Veiga, trabalha há seis anos no setor de estética. Na pandemia, apesar da baixa no movimento, ela relata que conseguiu renovar as ideias, se adaptar as mudanças e ainda fazer investimentos. Bem no início da quarentena, Clara mudou o estúdio para uma sala maior, contando com um empréstimo de R$ 10 mil pra preparar e equipar o novo local.
A empreendedora conta que a decisão foi tomada na “cara e na coragem”. “Mas deu tudo certo e hoje estou bem feliz”, comenta. Ela lembra que conseguiu manter a maioria das clientes, trabalhando no limite dos custos, e as clientes que deixaram de buscar o atendimento aos poucos estão voltando.
A pandemia serviu como estímulo pra Clara intensificar a presença na internet. O perfil que existia só no Facebook, sem muita atualização, ganhou força no Instagram, que virou a principal vitrine do trabalho da profissional. Clara destaca que aprendeu “na marra” a mexer na plataforma, por onde divulga seu trabalho e mantém contato direto com clientes.
No estúdio na rua 2000, no centro de Balneário, a esteticista conta com uma equipe de quatro profissionais. Além de zelar pela qualidade nos serviços estéticos, Clara investiu pra criar um ambiente agradável aos clientes e com atendimento personalizado. Ela entende que essas ações ajudam a fidelizar o cliente e tornam o serviço diferenciado diante da concorrência do mercado.
Como pequena empreendedora, Clara destaca que uma das principais dificuldades é conquistar credibilidade das grandes empresas e enfrentar a saturação do mercado. Nesse contexto, ela defende que a união de forças por meio de associações e parcerias com outros empreendedores fazem a diferença. Ela destaca que linhas de crédito para os pequenos negócios também são medidas importantes para o empreendedor fazer o negócio crescer.
No caso dela, Clara tomou empréstimo para pagar em 32 vezes numa linha para MEI sem juros. “Se a gente não tivesse essa condição de empréstimo, nós, como MEIs, não teríamos meios de se movimentar”, avalia.
Empreendedores têm novos desafios no pós-pandemia
O presidente da Ampe de Balneário Camboriú, Antônio Demos, destaca que a força dos microempreendedores e dos pequenos negócios deve ser destacada mas é preciso que as empresas também sejam valorizadas e tenham tratamento diferenciado pra que não fechem as portas precocemente.
A maior parte dos pequenos negócios é da área de comércio e serviços, que estão puxando os indicadores positivos na recuperação da economia do estado na pandemia. No pós-pandemia, no entanto, as pequenas empresas têm outros desafios a superar, segundo alerta o dirigente.
“Hoje, embora a economia esteja se aquecendo, as micro e pequenas empresas estão enfrentando novas dificuldades como inflação alta, preço dos combustíveis e taxa de juros nas alturas, dificultando os negócios em toda sua amplitude”, comenta.
Antônio afirma que a entidade tem atuado pra atender às necessidades da categoria, entre qualificação da gestão, acesso ao crédito e uso da tecnologia. Nessa semana, a associação ofereceu oficinas para filiados e comunidade em geral sobre abertura e gestão de MEI, divulgação dos negócios pelas redes sociais e estratégias de vendas.
Pronampe já atendeu mais de 517 mil empresas
Criado pra socorrer os pequenos empreendedores durante a pandemia, o programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) se tornou uma política pública permanente em junho. Desde o ano passado, o programa concedeu mais de R$ 37,5 bilhões em empréstimos pra mais de 517 mil pequenas empresas.
As condições especiais de crédito seguirão mesmo após o fim da pandemia, com prazo mais longo pra pagamento e juros menores que os aplicados no mercado de crédito. A taxa do programa soma o percentual da Selic (hoje em 6,25%) mais 1,25%. O prazo de pagamento é de até 48 meses, com a primeira parcela podendo ser paga após 11 meses do início do contrato.
O Pronampe foi criado em projeto do senador catarinense Jorginho Mello (PL), presidente da Frente Parlamentar da Micro e Pequena Empresa. Em sessão especial na Câmara na terça-feira, ele cobrou a votação de outros projetos pra categoria, como o novo Refis, que vai facilitar o pagamento de dívidas dos empreendedores.
“São esses empreendimentos que afetam diretamente a economia nacional, pois, entre outros resultados positivos, são fontes de criação de postos de trabalho. Os empresários de micro e pequenas empresas representam aproximadamente 98% dos negócios ativos no Brasil e formam a base da economia brasileira”, destacou.
O projeto de Renegociação em Longo Prazo (Relp), de autoria do senador, amplia abrangência do programa de Recuperação Fiscal (Refis) e permite o parcelamento de dívidas de micro e pequenas empresas. A proposta foi aprovada pelo senado em agosto e enviada para câmara dos Deputados, onde espera pela votação.
Pelo texto aprovado, as dívidas fiscais poderão ser parceladas em até 188 vezes (entrada de 8 parcelas + 180 prestações) e dívidas previdenciárias em até 60 vezes, por empresas optantes pelo Simples Nacional. O projeto original previa o pagamento em até 480 vezes (40 anos) e abrangia todas as empresas.