Suspeita de fraude
Dossiê da CPI da covid diz que declaração de óbito da mãe de Luciano Hang foi adulterada
A suposta fraude no motivo do óbito da mãe do dono da rede Havan seria pra omitir a ineficácia do tratamento precoce; empresa desmente
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Um dossiê elaborado por médicos que afirmam ter trabalhado para a operadora de saúde Prevent Senior, e entregue à CPI da covid, aponta que a declaração de óbito da mãe do empresário Luciano Hang, Regina Hang, “foi fraudada”. Segundo os médicos, a suposta fraude no óbito da mãe do dono da rede Havan “é um dos inúmeros casos que não foram devidamente noticiados”. Ela foi internada no dia 31 de dezembro e morreu em 3 de fevereiro. Hang é apoiador do presidente Jair Bolsonaro e incentivador do chamado “tratamento precoce”.
Segundo o prontuário da senhora, havia informação sobre o início de sintomas da covid e foi adotado o tratamento precoce com hidroxicloroquina, azitromicina e colchicina antes da entrada na internação da Prevent Senior. Os médicos afirmam que ela teria recebido ivermectina e tratamentos experimentais.
Em vídeo divulgado nas redes, Luciano Hang afirma que até a sua mãe ser diagnosticada com Covid-19, nunca tinha dado “medicamentos de prevenção”. A acusação é de que, para não descredibilizar a "eficácia" do tratamento precoce, o empresário procurou negar que sua mãe tivesse feito uso dos medicamentos que não eram recomendados pela Organização Mundial de Saúde. Ele teria pedido para que a informação não fosse registrada no laudo médico da Prevent Senior.
O relato sobre a mãe do empresário consta do capítulo “Da suposta fraude nas declarações de óbito”, do dossiê de mais de 60 páginas entregue à CPI. O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), afirmou que Luciano Hang “tinha condições de levar a sua genitora para a lua, porque tem dinheiro para isso”. “Mas levou para a Prevent Senior. E lá, segundo as informações, no atestado de óbito não consta que ela veio a óbito por covid”, declarou Aziz.
Procurada, a Prevent Senior reafirmou que não houve fraudes em declarações de óbitos. O diretor-executivo da empresa, Pedro Benedito Batista Junior, prestou depoimento à CPI nesta quarta-feira e negou que a operadora tenha cometido qualquer irregularidade.
Luciano Hang ainda não se manifestou sobre as acusações.
Sobre o caso
A empresa de plano de saúde Prevent Senior teria feito um acordo com o governo federal para promover a venda de hidroxicloroquina e azitromicina, dois medicamentos cuja eficácia contra covid não tem comprovação científica.
A denúncia partiu de um grupo anônimo de médicos da empresa, que enviou à CPI da covid um dossiê com as provas da acusação, divulgado pelo GloboNews. Para legitimar as vendas e o acordo com o poder público, o convênio teria falsificado um estudo que indica a eficácia das drogas no tratamento contra o coronavírus.
A pesquisa, que começou a ser feita em 25 de março deste ano, teria sido manipulada com a omissão de sete mortes de pacientes testados com os medicamentos – apenas dois óbitos são citados. Outros estudos científicos não sustentaram a eficácia da hidroxicloroquina contra a covid.