Itajaí
MP investiga acusação de que médico “abreviou” a vida de pacientes
Médico que atuava na emergência foi afastado a pedido do MP e com base na decisão do CRM
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
A 13ª promotoria de Justiça de Itajaí apura possíveis crimes cometidos pelo médico cirurgião, Gustavo Deboni da Silva, durante sua atuação como médico da emergência do hospital Marieta Konder Bornhausen.
O promotor Maury Roberto Viviani entrou com uma ação civil pública, na última quarta-feira, pra apurar as denúncias de que o médico estaria “abreviando a vida dos pacientes” internados no hospital.
Na ação, o MP pede o afastamento cautelar do médico das atividades e a proibição do exercício da medicina através do SUS no município de Itajaí. O juiz da vara da Fazenda Pública de Itajaí ainda analisa os pedidos do ministério público.
O MP solicitou que a divisão de Investigação Criminal de Itajaí apure se a conduta do médico causou a morte proposital de pacientes. A investigação policial ainda não foi concluída.
Gustavo trabalha no hospital Marieta desde 2010. Ele foi contratado pela direção geral do hospital. Ele não faz parte da equipe clínica do Marieta.
Os fatos apurados pelo MP supostamente teriam ocorrido entre os anos de 2017 e 2019, mas só chegaram ao conhecimento do ministério público em meados de março de 2020.
19 mortes investigadas
O inquérito civil tramita em sigilo. Foram ouvidas testemunhas e solicitado que o Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina verificasse os fatos e fizesse a análise técnica de prontuários de pacientes que, nos últimos dois anos, teriam sido atendidos por Gustavo no último dia de vida ou que tiveram o óbito declarado pelo profissional.
O CRM-SC instaurou uma sindicância administrativa. Foram analisados 19 prontuários de pacientes do hospital Marieta. A investigação constatou a existência de indícios de que o médico, entre outras infrações disciplinares, teria “abreviado a vida” de oito pacientes.
O MP não informou como Gustavo “abreviava a vida das pessoas”, se era desligando os aparelhos, dando medicação errada ou deixando de adotar algum procedimento com os pacientes. O ministério Público alega que não pode passar mais informações para não atrapalhar as investigações.
O MP recomendou à direção geral do hospital que afastasse o médico imediatamente. O hospital afastou o profissional desde o dia 14 de agosto.
Na última quarta-feira, o CRM também decidiu por uma interdição cautelar impedindo o médico de atender por seis meses. Ele fica proibido de exercer a medicina, preventivamente, enquanto a investigação sobre a sua conduta não é concluída.
Há dois dias o DIARINHO tenta ouvir o médico Gustavo Deboni da Silva, mas ele não retornou os contatos da nossa reportagem.
Direção geral do Marieta afastou o médico
O hospital Marieta Konder Bornhausen informou, ontem de manhã, que afastou Gustavo Deboni da gerência médica do hospital, seguindo as determinações do conselho Regional de Medicina de Santa Catarina.
A decisão foi publicada no site do CRM. “O Marieta agirá dentro da legalidade acatando e cooperando com os órgãos competentes e de classe. Os fatos serão apurados conforme o sigilo dos processos determina,” disse a nota do hospital.
A punição do CRM, que se chama interdição cautelar, é resultado de uma sindicância que deu origem ao Processo Ético Profissional 54/2020. O CRM decidiu, por unanimidade, pela interdição provisória do exercício da profissão de Gustavo.
Neste período de seis meses, o médico não poderá exercer a medicina. Se houver desrespeito à suspensão, ele poderá até responder criminalmente.
O médico também prestava serviços à empresa terceirizada que administra o hospital Ruth Cardoso, de Balneário Camboriú. Gustavo igualmente foi afastado do hospital de BC. O Ruth Cardoso informou que não tinha recebido denúncias contra o médico.
O afastamento cautelar ocorre antes do julgamento definitivo do processo administrativo, em situações em que o exercício da medicina pode oferecer riscos à saúde da população.