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Itajaí

Lutador espancado em briga de posto se forma na facul

Depois de ficar entre a vida e a morte, ele teve que abandonar a carreira no MMA, mas tá achando um novo caminho

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]

Anderson Bernardes, especial para o DIARINHO

Na próxima quinta-feira, dia 1º de abril, um rapaz de 25 anos participará de uma cerimônia de colação de grau e receberá o diploma da licenciatura em Educação Física de uma universidade privada, na cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul.

Seria uma notícia feliz apenas para a família dele e para os amigos mais próximos, se o jovem em questão não se chamasse Kauê Terra Mena, o ex-lutador de MMA que, depois de se envolver em uma briga num posto de gasolina em Camboriú e ser violentamente espancado, ficou entre a vida e a morte e, contrariando as expectativas dos médicos, sobreviveu.



A agressão rolou na madrugada do dia 6 de julho de 2013, na loja de conveniência do posto de gasolina Paixão. Kauê estava acompanhado do também lutador de MMA, Maiquel Falcão, que se envolveu em uma confusão com uma mulher no caixa e, depois de agredi-la, deu início a uma briga generalizada que envolveu o colega de academia. No pátio do posto, Kauê foi atingido por uma paulada na cabeça e caiu inconsciente. No chão, recebeu vários socos e pontapés na cabeça.

De acordo com a família, o ex-lutador foi levado para o hospital Ruth Cardoso, em Balneário Camboriú, e por lá ficou 13 horas sem receber o devido atendimento. Foi transferido para o hospital do Coração, onde chegou com chances mínimas de sobreviver.

Os procedimentos e as cirurgias necessárias para manter Kauê vivo enquanto não era possível uma internação pelo Sistema Único de Saúde (SUS) deixaram para a família uma dívida que supera os R$ 65 mil. “Até hoje não pagamos. Sempre que o Kauê tem consultas aqui e faz exames nós temos que pagar. É tudo particular, não temos planos de saúde e o SUS não paga. Não conseguimos guardar dinheiro para saldar essa dívida ainda”, explica a mãe de Kauê, Gisele Mena.


Do hospital do Coração, Kauê foi transferido para o hospital Marieta Konder Bornhausen e, posteriormente, para a Santa Casa, em Pelotas. Desde então, nunca mais retornou a Santa Catarina. Todo o processo de internamento, tratamento e recuperação do ex-lutador foi acompanhado pela mãe que, até, hoje, não quis ver as imagens registradas pelas câmeras de monitoramento do posto de gasolina, que mostram o espancamento do filho.

A mãe ficou afastada durante oito meses do trabalho de professora em uma escola da rede municipal de ensino em Santa Vitória do Palmar, no extremo sul do Rio Grande do Sul, para cuidar da recuperação de Kauê. As agressões deixaram sequelas na fala e na memória curta do ex-lutador, que, às vezes, esquece pessoas e diálogos que teve recentemente.

Os outros sentidos não foram afetados. A maior preocupação era com a visão que, segundo os médicos, corria mais risco de ser afetada devido à gravidade das lesões na cabeça. Kauê poderia ter ficado cego, mas com o tratamento adequado tem apenas dificuldades com a visão periférica. Ele mantém as memórias de infância e também do tempo em que viveu em Santa Catarina.

Vai estagiar em academias


O curso de Educação Física que ele havia iniciado antes da briga em Camboriú foi reiniciado em 2015 e concluído em dezembro. Durante o curso, fez estágios trabalhando com crianças das séries iniciais do ensino fundamental. Antes mesmo de receber o diploma da licenciatura, em 24 de março, o ex-lutador deu início ao bacharelado em Educação Física.

Nesta nova etapa acadêmica, os estágios serão em academias, ambiente que ele tanto frequentava antes da confusão no posto de gasolina. “No ano que vem, de março a julho, ela vai fazer os estágios. Será a realização dele, pois é o que ele ama fazer”, conta a mãe.

Na sexta-feira, quando o nome de Kauê Mena for anunciado no centro de eventos da Fenadoce, em Pelotas, para que ele receba o diploma de conclusão do curso de Educação Física, ele experimentará mais uma vez a sensação da vitória. Algo que já conhece dos tempos de lutador. Mas não será aquele mesmo sentimento de ter derrotado um oponente dentro de um octógono e sim a mais legítima sensação do verdadeiro atleta – ter conseguido superar as suas próprias limitações.


Processo na justiça ainda está longe do fim

O processo contra os agressores de Kauê Mena corre na vara Criminal de Camboriú desde agosto de 2013. Depois do inquérito policial feito pela delegada Daniela Souza, quatro jovens foram indiciados. Um menor, que teria sido responsável pela paulada na cabeça de Kauê, responde por ato infracional.

O Ministério Público denunciou Charlie Abner Alves Molina pela tentativa de homicídio de Kauê e Everton Rodrigues Galvão pela tentativa de homicídio de Maiquel Falcão. Anderson Benevides da Silva também foi denunciado. A denúncia foi recebida no dia 27 de agosto de 2013 e os três se tornaram réus no processo por lesão corporal e tentativa de homicídio.

Franklyn Emílio Batschauer de Oliveira também é réu no processo por falso testemunho e favorecimento pessoal.

Desde então, houve cinco audiências para a instrução do processo que deve ir a júri popular. A sexta audiência, marcada para o dia 15 de outubro do ano passado, acabou cancelada. As vítimas não compareceram nas audiências.

Kauê Mena foi ouvido duas vezes através de carta precatória, em 2014 e 2015. Maiquel Falcão não foi localizado e, em setembro do ano passado, o Ministério Público desistiu de ouvir o lutador como testemunha.


O advogado Germano de Oliveira Pereira, que trabalha na defesa dos acusados, afirma que ainda não há uma previsão para o desfecho do processo. Ele acredita que seus clientes não devam ir a júri popular porque teriam agido em legítima defesa. “No entendimento da defesa, o Maiquel e o Kauê, este último incentivado pelo Maiquel, foram os responsáveis pelo que aconteceu. Honestamente, acredito que tudo ocorreu por culpa deles e nossos clientes agiram em legítima defesa”, afirma.

Para o advogado, depois da briga dentro da loja de conveniências, Maiquel Falcão e Kauê Mena teriam continuado a provocar o grupo, que já estava no carro, pronto para ir embora do local.

No meio dessa confusão, teria surgido o menor que, com um pedaço de pau, atingiu a cabeça da Kauê. “Esse garoto não estava com meus clientes. Ele estava sempre ali no posto. Pedimos que ele seja ouvido para que a declaração dele conte no processo”, explicou o advogado.

Para a mãe de Kauê, o culpado é Maiquel Falcão. “Só chamam o Kauê para depor, mas o causador da briga está numa boa; tem luta na Rússia, em junho. Ele fugiu e nunca deu depoimento”, desabafa a mãe.

KAUÊ MENA:

“O julgamento dos agressores eu entrego para Deus”

Em entrevista ao DIARINHO, o ex-lutador fala dos planos para a vida profissional e conta que não teve mais contato com Maiquel Falcão, que estava com ele no dia da confusão. Kauê também fala da vontade de voltar para Santa Catarina para rever as pessoas que o ajudaram quando estava entre a vida e a morte.

DIARINHO – Dois anos e oito meses depois da agressão, e ainda não há uma previsão da conclusão do processo contra as pessoas que te agrediram. O que você espera da Justiça?

Kauê Mena - O que eu queria estou conseguindo, que é estudar e viver. Lógico que enfrento barreiras diárias. Minha recuperação é lenta e ainda tenho dificuldades para caminhar. Mas sobre o julgamento dos agressores, eu entrego para Deus. Referente ao processo, já dei duas vezes depoimento e afirmei que não quero o mal dos agressores. A justiça de Deus será justa. Não tenho culpa de nada, fui a vítima em todas as partes. A moça envolvida na briga, eu localizei no Facebook e pedi perdão pelo ato em que ela foi agredida e pelo que houve naquele dia. Ela afirmou que eu não tinha nada a ver e que não era o culpado, e que ela estava rezando pela minha melhora e recuperação.

DIARINHO - Quais seus planos agora que é licenciado em Educação Física?

KM - Um dos planos é conseguir terminar o bacharelado em Educação Física, que comecei este ano e que irá até julho do ano que vem. Depois quero sentar com meus pais e conversar sério sobre o que irei escolher. Eles querem que eu abra uma academia, mas eu estou pensando sobre isso. Se for para abrir, eu penso em abrir um estúdio para trabalhar com emagrecimento e reforço muscular e mais na parte de saúde e incentivo. Para trabalhar com quem precisa de um hobby, um incentivo no trabalho e no dia-a-dia para tornar sua vida saudável.

DIARINHO – O Maiquel Falcão não deu depoimentos à polícia. O MP desistiu da ouvi-lo no processo. Você teve algum contato com ele depois da briga? Como você avalia essa atitude de não comparecer às audiências?

KM - Eu não tive contato e não quero ter, até por respeito a minha família e amigos que até o momento me ajudam. Ele não compareceu em nenhuma das audiências. Eu só afirmei e pedi para a juíza que queria poder viver e me recuperar e não queria me prejudicar em nenhuma hipótese. Até hoje estou vivendo e pagando pela minha saúde por um erro que não cometi. A última notícia que sei dessa pessoa [do Maiquel Falcão] é que ele está morando em Londrina e está lutando o M1 Challenger, na Rússia, porque no Brasil ele não pode lutar há muito tempo, pelos processos que tem...

DIARINHO - Como é a tua relação com Santa Catarina? Você pretende voltar?

KM - Tenho muitos amigos e amigas que me ajudaram em Santa Catarina. Estou com planos de ir visitar as pessoas que me ajudaram. Não fui ainda por causa dos compromissos da faculdade. Mas falo com todos e, assim que der, iremos até Santa Catarina. Até porque tenho que ir aos hospitais em que estive e visitar as famílias que sempre me ajudaram e até o momento me ajudam.




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