Coluna Existir e Resistir
Por Coluna Existir e Resistir -
O choro é livre
Há os que bradam:
o choro é livre
o choro é livre sim
o choro... não
não é livre não
o choro hoje é retrocesso
é exclusão, é o poder das milícias
que ocupam o plano alto dos assassinatos encomendados
sem justiça, sem punição
o choro é boicote ao livre pensar
é mordaça ideológica que amputa o raciocínio
e cega o olhar
o choro é malícia
milícia, preconceito, alienação
enquanto os direitos do povo
escoam pelo ralo da corrupção
o choro é calado pela mentira
opressão
o choro ganha concretude
no sangue diariamente derramado
dos herdeiros desta terra
genocídio legalizado
pela caneta bic do capitão fanfarrão
o choro é livre
o choro é chuva livre
a chuva não é livre
o solo não é livre
não é livre de agrotóxico 300 vezes mais que o permitido
que envenena nossos filhos
mas facilita o exorbitante lucro do agronegócio sem lógica
sem sentido
o choro é agro
não é pop
o agro é tóxico
como livrar-se do choro
se os que se dizem do bem
elegeram uma aberração
não duvide... ouça
o choro, também é seu meu irmão
o choro tem nome
tem corpo, tem boca
prega a violência, transforma em vítimas da intolerância todos os que não são iguais
o choro clama
‘As minorias vão voltar para o esgoto de onde não deviam ter saído’
o esgoto, eu digo, é a família do dito cidadão de bem
ou de onde eles acham que saem
discriminados os negros
é da família
ensanguentados os índios
é da família
subjugadas as mulheres
é da família
espancados os gays
é da família
é do seio da família
de certo creem serem obras do maledito
maledito são eles
pais que espancam
abusam
traem a confiança de suas filhas
alienam e entorpecem de ignorância fanática sua família
o choro é livre
o choro é livre
investe no choro
do choro do negro que é filho de alguém
no choro do índio
que é filho de alguém
no choro das mulheres
irmãs, mães, todas reféns
no choro dos gays
cuja alegria não os torna menos filhos de ninguém
o choro é livre
para todos os prisioneiros
para o cárcere e o carcereiro
que movimenta a roleta da bala de fogo que mata
o choro não tem gosto de prata
a bala não está perdida
a bala é legalizada o tiro é certeiro
negro, índio, mulher, gay
quem ousar abrir a boca primeiro
o choro é livre
para todos nós
humanidade falida
sistema reacionário
onde o retrocesso vem ligeiro
o choro não é livre
a lágrima não cai solta
o nó tá preso
na garganta, na voz que sai trêmula e rouca
o choro é livre ou não?
Autora: Mabel Pessoa Spindola