A prefeita de Canoinhas, cidade no planalto norte de Santa Catarina, viralizou em todo o Brasil na quinta-feira após divulgar em suas redes sociais um vídeo jogando livros da biblioteca municipal, distribuídos pelo projeto Mundoteca, no lixo. “Aqui em Canoinhas a gente joga esse tipo de porcaria no lixo”, publicou Juliana Maciel (PL).
A ação chamou a atenção do Ministério Público. A 1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Canoinhas abriu um procedimento preliminar para investigar o descarte ilegal de livros.
O argumento da prefeita é de que os livros “Aparelho Sexual e Cia: Um Guia Inusitado Para Crianças Descoladas” de Zep e Hélène Bruller, e “As Melhores do Analista de Bagé”, de Luis Fernando ...
A ação chamou a atenção do Ministério Público. A 1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Canoinhas abriu um procedimento preliminar para investigar o descarte ilegal de livros.
O argumento da prefeita é de que os livros “Aparelho Sexual e Cia: Um Guia Inusitado Para Crianças Descoladas” de Zep e Hélène Bruller, e “As Melhores do Analista de Bagé”, de Luis Fernando Veríssimo, seriam “contra os valores da família”.
No vídeo, Juliana ainda faz menção ao “governo do PT” e à Lei Rouanet, mas os livros chegaram à biblioteca da cidade antes do governo Lula.
Apesar de acessar uma política pública de incentivo, a Mundoteca não é uma ação do governo federal. O projeto é uma iniciativa da empresa FGM Produções, que buscou recursos captados pela Lei Rouanet entre 2019 e 2023, ainda durante o governo Bolsonaro. A captação foi aprovada em 2018. Desde 2024, as bibliotecas e todos os seus recursos passaram à gestão das próprias prefeituras.
“A unidade de Marcílio Dias, na cidade de Canoinhas, foi inaugurada no dia 19 de novembro de 2022 e gerida pelo projeto por um período de oito meses, como previsto em contrato, não tendo qualquer vínculo com a atual gestão do governo federal. Após esse período, o gerenciamento do espaço e de seu acervo foram entregues ao poder executivo municipal”, explica a nota divulgada pela FGM Produções.
A produtora cultural informa que os livros mencionados pela prefeita possuem classificação indicativa e nunca foram indicados ou emprestados para crianças. Em Canoinhas, o livro “Aparelho Sexual e Cia” foi emprestado apenas para uma pessoa adulta na biblioteca municipal, enquanto o livro “As melhores do Analista de Bagé” nunca foi emprestado.
Ricardo Gerstner, presidente da Câmara Setorial de Literatura de Itajaí, reforça que livros não podem ser censurados, mas devem ser zelados por profissionais responsáveis. “Não há e não pode haver problema de uma obra estar disponível em uma biblioteca, desde que seja respeitada a classificação indicativa”, afirma.
Livros censurados
• Aparelho sexual e cia: guia inusitado para crianças descoladas” é um livro indicado para maiores de 12 anos. O livro aborda temas como amor e sexo, e curiosidades sobre a puberdade, sexualidade e estar apaixonado, mas de forma leve e bem humorada. A obra é descrita como um guia para informar os jovens de forma atraente sobre educação sexual.
• As melhores do analista de Bag: o clássico de Luís Fernando Veríssimo é um compilado de tirinhas originalmente publicadas na revista Playboy nos anos 1980 e recomendado para o público adulto. As tirinhas trazem como personagem principal um psicanalista gaúcho que utiliza conhecimentos pseudocientíficos e sabedoria popular para ajudar seus pacientes. O livro é de humor.