LUTO NO BRASIL
Aos 91 anos, morre Elza Soares
Cantora esteve por duas oportunidades no Festival de Música de Itajaí e só deixou saudades na cidade
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]
A cantora Elza Soares, de 91 anos, morreu na tarde de quinta-feira, na sua casa no Rio de Janeiro. A causa foi natural. “É com muita tristeza e pesar que informamos o falecimento da cantora e compositora Elza Soares, aos 91 anos, às 15 horas e 45 minutos em sua casa, no Rio de Janeiro, por causas naturais”, diz o comunicado, assinado por Pedro Loureiro, Vanessa Soares, familiares e a equipe Elza.
Elza é um ícone da música brasileira, considerada uma das maiores artistas do mundo, e eleita a Voz do Milênio. “Ela teve uma vida apoteótica, intensa, que emocionou o mundo com sua voz, sua força e sua determinação. A amada e eterna Elza descansou, mas estará para sempre na história da música e em nossos corações e dos milhares fãs por todo mundo. Feita a vontade de Elza Soares, ela cantou até o fim”, disse o comunicado da família.
Elza faleceu no mesmo dia que o ex-marido, o jogador Garrincha. Ele faleceu em 20 de janeiro de 1983. O velório de Elza Soares será na manhã desta sexta-feira no teatro Municipal do Rio de Janeiro. Das 8h às 10h, a cerimônia será restrita à família. O público poderá se despedir da cantora das 10h às 14h. O sepultamento será no cemitério Jardim das Saudades.
Shows em Itajaí
A cantora se apresentou em duas oportunidades no Festival de Música de Itajaí. Nos primeiros anos do festival, a convite do amigo Guto Dalçóquio, então superintendente da Fundação Cultural, no governo Jandir Bellini. “Foi quando o Milton Nascimento veio. Fez um lindo show no Guarani, inclusive o Milton estava no balcão da plateia”, recorda Antônio Carlos Floriano, que trabalhou na direção do Festival.
Em 2019, Elza abriu a programação do 22º Festival de Música. O show foi gratuito e aconteceu no centreventos, onde ela apresentou “A voz e a máquina”.
História de resistência
Natural do Rio de Janeiro, Elza começou a cantar em um programa de calouros em 1953. Eleita pela Rádio BBC de Londres, em 2000, como a cantora brasileira do milênio, foi uma das 100 maiores vozes da música brasileira pela Rolling Stones Brasil e recebeu diversas premiações. Em 2020, lançou o disco “Deus é mulher”, indicado ao Grammy Latino como melhor álbum.
Elza Soares também carrega uma história marcada por tragédias pessoais. Foi vítima de casamento infantil aos 11 anos, sofreu com o falecimento de filhos por conta da fome, foi casada com o jogador Garrincha, onde viveu um relacionamento abusivo e sofreu violência doméstica. Na ditadura militar teve sua casa invadida por militares.
Empresário itajaiense relembra grandes momentos ao lado da diva Elza
A primeira participação de Elza Soares no Festival de Música de Itajaí, no ano de 2000, deu início a uma amizade entre a cantora e o empresário Guto Dalçoquio, na época superintendente da Fundação Cultural. Amizade que durou as últimas de duas décadas, que nutriu o amor de ambos ao Rio de Janeiro, a paixão pela música popular brasileira, pela escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel e outras tantos gostos que os dois tinham em comum.
Guto revela que encontrou Elza, pela primeira vez, no teatro Rival, no centro do RJ, para marcar o show do festival de Músic de Itajaí. Naquela noite, eles falaram de tudo, menos das formalidades do show. Desde aquele dia, Guto e Elza mantinham contato, se visitavam e conversavam sobre tudo. “Elza foi e será para sempre uma grande amiga," disse Guto ao DIARINHO, emocionado.
Guto foi um dos convidados por Elza para estar no teatro Municipal de São Paulo, nesta semana, para participar da gravação de um especial para o canal de streaming da Globo, com lançamento previsto para oito de março.
Após dois anos se falando só por telefone e por videochamadas por conta da pandemia de covig-19, Guto e Elza se encontraram no hotel, nessa semana, após a gravação, e ficaram conversando horas. “Eu estava morrendo de saudades. A gente só se falava por telefone. Ela tinha me convidado para desfilar com ela pela Mocidade, no carnaval, se tivesse carnaval. Ela seria homenageada pela escola", conta Guto, bastante emocionado com a perda.
Guto diz que Elza estava bem de saúde e disposta nos dois dias de gravação no Municipal. “Ela estava tranquila. A gravação foi linda, um pouco cansativa, normal para uma gravação deste porte, mas ela estava bem”, conta.
Do reencontro, Guto compartilhou uma foto com Elza em seu perfil no Instagram. "Sobre ontem a noite: os mascarados", postou.
Guto, que nesta quinta-feira estava no Rio de Janeiro, ficou sabendo da morte da amiga através das netas de Elza Soares e, enquanto falava com o DIARINHO por telefone, estava indo para a casa da cantora no Recreio dos Bandeirantes. “Ela estava com as netas, que são enfermeiras, na casa de Recreio. Ela acordou mal e foi perdendo a pulsação. As netas queriam levá-la para o hospital, mas Elza não quis. Ela falou ‘eu não quero, estou bem, é minha hora de ir’”, narrou Guto, bastante emocionado. Elza faleceu no mesmo dia da morte do ex-marido Garrincha, 20 de janeiro.
Para Guto, ficam as lembranças da amizade. “Ela adorava ir lá em casa, na casa dos meus pais, ficar na pousada. O primeiro festival de Música que ela participou em Itajaí foi uma loucura. A banda dela, a banda do Milton Nascimento, que tocou no mesmo ano, os professores do festival, todos foram lá para casa, depois dos shows. Não tinha hora para acabar…”, relembrou Guto.