Estava eu aqui, em mais um dia corrido de trabalho, quando me veio uma sensação estranha: “faz tempo que não ouço notícias sobre a comunidade negra na grande mídia.”
Bem, por ser mãe estreante e de uma menina de apenas dois meses, logo me fiz um autojulgamento por não estar conseguindo me inteirar dos assuntos atuais. Mas fiquei intrigada e fui ao meu fiel companheiro de trabalho Google Trends (ferramenta que mostra os mais populares termos buscados no Google) para verificar como estavam as notícias. O curioso, ou nem tanto, é que em um ano o termo “negro” teve três picos de interesse de pesquisa: em maio, em referência ao caso George Floyd; quando o ator de Pantera Negra faleceu, em julho de 2020 e em novembro, pela Consciência Negra.
Segui no meu momento de reflexão e neste meio tempo me lembrei de outras notícias que tiveram abrangência nacional nos últimos meses e por “coincidência” todas tristes, pesadas. Pensei novamente: “talvez a minha memória esteja prejudicada… devem ser os hormônios da gestação que ainda me acompanham!”
Brincadeiras e alterações hormonais à parte, não temos como negar o fato de que sim, ao menos nos últimos 12 meses, negros só estiveram “em alta” em datas específicas e ligados à eventos que demonstram a nossa primitiva realidade. Quando não há casos ao estilo George Floyd, me parece que não há interesse de uma divulgação ampla.
Mas de quem é a responsabilidade? Nossa? Claro que não, estamos falando do famigerado racismo estrutural que não enxerga importância em conquistas realizadas por negros e negras. Mas nós temos sim como trabalhar para que essa entressafra de tristes eventos que envolvam a nossa comunidade, seja enriquecida com nossos feitos mais valiosos, com nosso trabalho, nosso talento, nossa arte, nosso dom.
Penso que ao nos inteirarmos, consumirmos e disseminarmos livremente as nossas produções, nossos trabalhos, nossos negócios, não somente entre a nossa comunidade, mas entre todos, estaremos formando uma rede de apoio e naturalmente vamos entrando em voga por outras frentes.
Vejam bem, não acredito que casos que envolvam racismo ou discriminação devam deixar de ter repercussão, muito pelo contrário. Mas gostaria muito mais de abrir o meu navegador e pelo menos uma vez por dia enxergar um negro protagonizando uma notícia boa.
Vamos tentar fazer esse movimento?