Coluna esquinas
Por Coluna esquinas -
No tempo
Uma crônica carrega memórias sobre habitantes do lugar. A etimologia da palavra crônica vem de Chronos, tempo que se mede. Quando escrevo sobre o lugar, estou dando vida às vozes que podem silenciar com o tempo.
Moramos em uma cidade que cresceu entre águas. Seus moradores convivem com o encontro do rio e de mar. Quem aqui mora – como o rio que carrega as memórias de diferentes lugares e chega vivo e intenso no mar – tem histórias para contar de uma infância de outrora e sua relação com as águas que banham esse lugar.
Vasculhando em memórias desta cidade encontramos dois personagens sempre presentes nas fotografias em outros tempos: o rio e o mar. Festas religiosas que abraçam as águas, encontros de casais na areia da praia ou os olhos que veem uma criança crescer nas brincadeiras na beira da água. As profissões que surgem nas margens do rio, nas ondas do mar. Construções que carregam a história de tantos anônimos que chegaram pelo mar. As enchentes que devastaram memórias e vidas, levando sonhos e deixando lama. A cidade respira maresia. A cidade flui nas correntezas de um rio.
De encontros, essa cidade foi se fazendo. Encontro das águas do rio com o mar. Dos imigrantes que chegaram no porto em terras estranhas. Dos turistas que visitam essa terra e suas belezas. Encontro do migrante que chega para o trabalho. É nos encontros que a cultura desse lugar vai desenhando seus traços.
Crônicas, que permitam aos anônimos dessa cidade encontrarem espaço para que suas histórias sejam perenes. O texto do cronista que narra o inacabado da vida e pereniza o instante. A escrita precisa pulsar sobre a sociedade da qual ela nasce, com suas memórias e sofrimentos, suas alegrias e aspirações.
Meu texto age quando nasce no leitor. Como? Eu o retiro do lugar em que habita, em seu universo com sua visão muito singular, e o coloco nas histórias, em um outro lugar, transportando-o para outro tempo, outro espaço, outra casa, outros sentimentos. Instala-se o devir literário. A crônica promove o encontro daquele que narra com o leitor, que é levado para outras vidas desconhecidas até então, tornando agora, esse que lê, um protagonista das histórias narradas.
Minha crônica semanal circula por esses lugares. Ouvir narrativas e memórias do outro é como navegar em água revolta que só encontra segurança quando sabemos onde queremos chegar.
Uma crônica semanal registra os modos com que navegaremos em memórias do outro, sem ferir suas narrativas, aportando na literatura como terra firme que perenize o que será narrado.
Fica a dica:
O site https://cronicabrasileira.org.br/ com mais de 10 mil crônicas em recortes de jornais e acervos da literatura brasileira.