Coluna esquinas
Por Coluna esquinas -
Colo
Não há dúvida: não sou jornalista, sou historiador de formação e poeta por escolha. Mas já faz um ano que tenho escrito nesse espaço chamado – metaforicamente – de ESQUINAS. Tem dias que mudo de rumos, tem dias que encontro alguém para um bom papo.
Encontrei pessoas interessantes, curiosas, inteligentes e questionadoras que aceitaram o desafio: bater papos sobre temas cotidianos sem ao menos saber quem é o outro. Curiosidades de pessoas que ousam na vida e aceitam um bom desafio.
Dias desses assisti um filme que poderá nos ajudar no papo de hoje. O Solista (Joe Wright.2008). O filme é daqueles que poderiam cair em uma armadilha tolinha com discursos sobre um coitadinho que vive nas ruas de uma grande cidade. O roteiro narra o encontro inusitado de um jornalista com um morador de rua que tira belas sinfonias de um violino com duas cordas. Aqui entra a história do filme com nossa conversa. Sobre o filme? Fica como dica.
Escrever em jornais numa época que propaga o fim da cultura escrita com o crescimento da leitura na internet, textos curtos em redes sociais, livros eletrônicos portáteis ou blogs que acumulam acessos é um exercício de profunda solidão. Como os protagonistas do filme, parece que cronista e os leitores vivem mundos paralelos.
A experiência de manter esse espaço de conversas semanais trouxe inusitados encontros nos mercados, feiras, esquinas e ruas com pessoas que leem e querem discutir ali no espaço público sobre tema da semana. Rompe com a solidão do colunista, com a distância entre o que é escrito e o leitor, com fronteiras instituídas entre o jornal e seu público.
Os leitores tiram sinfonias bonitas – como o protagonista do filme – com poucas coisas. Nem sempre o que digo é o que leem. Nem sempre o que entendem é o que quero dizer. Eis o bonito e belo da coluna Esquinas: ouvir e ser ouvido. Eis uma profunda necessidade do mundo: ouvir mais, falar menos.
No filme O Solista, o encontro entre o músico e morador de rua com o jornalista muda completamente a vida de ambos. Cada um encontra no outro um pouco de si. Faço disso a minha alegria no encontro com os leitores dessas crônicas semanais. Encontro com leitores ótimas ideias, sensibilidades ou percepções que nunca viriam em minha mente. O diálogo permitiu que chegassem. Agradeço a quem lê ESQUINAS.
O poeta português Mário de Sá Carneiro um dia disse: “Eu não sou eu nem sou o outro, Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte de tédio.Que vai de mim para o outro.”
Agradeço aos que leem. A vida ganha alguns brilhos. E, nesse autorretrato falado do cronista, habito o extremo de mim quando não me sinto só em alguns temas.
P.s. entre loucuras da política e pandemia, não está sendo fácil dar colo para verdades.