Coluna esquinas
Por Coluna esquinas -
Retalhos
Tenho tendências pessimistas, bem sei. Não confio na humanidade, estou ciente. Seremos melhores após pandemia? Relembro aqui que depois da Peste Negra - pandemia devastadora que matou milhões de pessoas no século XIV – veio a Inquisição.
Um churrasco possível, risadas, desfile com caixões, orações, piadas, passeatas pedindo a abertura de comércio, descuidos, descaso, ministérios inoperantes, falas desencontradas, concurso para criar máscaras, secretária da cultura falando atrocidades em redes de televisão e uma gripezinha matando (oficialmente) 12 mil pessoas, no Brasil, até hoje.
Não são simples questões existenciais que habitam em mim e sim questionamentos sobre o (absurdo) interesse na manutenção e maximização dos lucros em detrimento da vida, do bem-estar coletivo. De que adianta ter grana se, em breve, podem faltar hospitais para atender a todos? Demonizamos o SUS e agora clamamos por decisões do governo. Mortal ironia.
Estamos pagando o alto preço por termos esquecido de que somos seres que pulsam, que somos frágeis e, inclusive, muito mais fracos do que a maioria dos seres invisíveis aos nossos olhos e muito mais poderosos que nós.
Costumamos dividir o tempo em presente, passado e futuro. Tudo parece bastante óbvio, mas não nos enganemos. Para definirmos o que é passado ou futuro, temos que definir o presente. Já ouvi ou li por aí que o presente não existe considerando-se que esse texto escrito no meu presente já é passado e está sendo presente a você que o lê. Portanto, vivemos diferentes tempos. Tenho sentido assim o que vivemos nesse país.
Nosso passado tem escravidão justificada por igreja, golpes tratados como avanço, heróis homens brancos que tem feriados em sua homenagem, discursos de independência que entregaram o país para outro dono, assassinados coletivos que entram para a história como vitória do bem contra o mal, silenciamento de alguns e endeusamentos de outros.
E o futuro? O futuro de nosso país habita nos discursos vazios de políticos que repetem, repetem, repetem a mesma fórmula até ficarem invisíveis aos sentidos dos habitantes desse país continental.
E agora, esse a qual chamamos de presente, exige que dialoguemos constantemente com a morte. Nós, habitantes de um país que tem mortes e silêncios em seu passado. Nós, habitantes de um país em que a incerteza está ali naquilo que chamamos futuro. Nós, habitantes desse país que perde também o seu presente. Estamos vivendo cada instante que, necessariamente, é diferente do anterior e do que virá.
Olho para a o futuro e vejo o que já passou. Num poema-retalho de outros tempos digo:
Morro dia após palavra. Existo poema a cada dia.
Fica a dica:
Vale a pena acordar para o futuro? Ou é preferível o conforto da ilusão presente? A Trilogia Matrix (Direção: Andy e Larry Wachowski) nos brinda com a oportunidade em conhecer o mundo real. Sim, aquele que não vemos, mas habitamos nele.