Coluna esquinas
Por Coluna esquinas -
Entrelinhas
Naquele finíssimo espaço que existe entre o que se diz e o que se argumenta que deixamos transparecer as nossas íntimas histórias. É ali naquela paisagem vazia que muito acontece mesmo que quem acesse ao texto nem imagine o mundo privado de quem escreve.
A entrelinha é a separação entre o que imagina quem lê e o que move quem escreve. Os melhores cenários de vida, verdades, sonhos e desejos habitam as entrelinhas. A vida é feita de coisas simples e sutilezas e é na entrelinha que as respostas chegam para egos, anseios, dores, buscas, decepções e alegrias.
Já que semanalmente escrevo aqui, que pelo menos eu não destrua as entrelinhas com palavras impositivas. O melhor sempre está nas entrelinhas.
O texto SINTOMAS, que foi publicado no dia 10 de abril, fez um convite àquelas pessoas que leem as crônicas da Esquina. Pedi assim: “Mande notícias e diga como está. Conte o que anda fazendo, criando, lendo, pensando. Mandem um conto escrito na quarentena, um poema, um desabafo.” Recebi depoimentos lindos que merecem habitar as entrelinhas de meus textos.
No mesmo dia em que a crônica foi publicada, recebi de Lu Weiss um depoimento que nos emocionou aqui em casa. Lu, que espera o nascimento de Maria Clara, deixou essas lindas palavras: “Esse coração que não é o meu, mas que trago junto ao meu, também confinado à um espaço limitado, pulsa, alheio ao medo, com tanta vontade e tanta força, que é inspirador e parece não se importar com esse espaço. São perninhas que descobrem os movimentos, bracinhos e mãozinhas curiosos, tateando tudo que alcançam, piruetas divertidas, que me deixam até sem ar.” Ahhh! Essas entrelinhas sempre importam mais. São nelas que estão à espreita as coisas que só os mais refinados sentidos podem entender.
Rafaelo de Góes e Andreza Flores me entregaram sua nova composição “Novo tempo de amor” e, embalado pela canção, parei em uma frase: “Sem aflição, sem medo, sem dor, eu vou trazendo a paz para o meu interior. Ahhh respirando”. Alimentou minhas meditações na semana que passou. Agradeço.
Amiga Édina-mulher chegou correndo com lobos e foi logo me falando de suas leituras. Para dizerem que invento, conto a vocês que ela leu o capítulo que lia deixando-me um áudio-livro. Guardei, claro. E fiquei com uma frase de sua leitura no livro “Mulheres que correm como Lobos”. Diz a autora: “Sermos nós mesmos faz com que acabemos excluídos pelos outros. No entanto, fazer o que os outros querem, nos exila de nós mesmos.” Sem entrelinhas, direto mesmo como é o perfil da amiga Édina Callegaro.
O texto acaba por aqui. O que escrevo continua. O melhor está ali nas entrelinhas, aquele recanto que tempera a vida.
Fica a dica:
Essa veio do leitor Rodrigo Giovanella, de Indaial, que enviou como resposta à minha provocação na semana anterior: prepare um chá e leia O Livro do Chá, de Okakura Kakuzō, sobre a arte em torno de gestos simples na vida.