Colunas


Em geral

Por Em geral -

Como as línguas deformam a realidade


Os discursos de convencimento mais comuns atualmente – transformados em armas letais nas batalhas da guerra híbrida – são, na essência, fraudes singelas. Por exemplo, trocar a busca da prevenção ou solução dos problemas da estrutura política ou da ordem econômica pela indicação de culpados (com o que se transfere a questão para a subjetividade deles), ou eleger a liberdade do indivíduo como bem supremo quando todos sabemos que a humanidade é gregária e o isolamento, sem haver quem o aplauda, um castigo que se chama solidão. Como, então, pessoas de boa fé e não comprometidas se deixam enganar tão facilmente? Uma boa razão é que os usuários da língua, mesmo os mais exímios, conhecem pouco a ferramenta que utilizam – o mecanismo da produção de sentidos que se esconde em gramáticas e dicionários. Dado por inútil ou desprezível, esse tipo de conhecimento lhes proviria meios de defesa. Há grande espaço para a malícia no processo de representação, em solitária sequência linear, da realidade que se apresenta aos homens como três dimensões em fluxo: - Poucas dentre as séries narrativas serão eleitas e a maioria das características descritivas terão que ser abandonadas; a arrumação resultante agregará inevitavelmente versões e escolhas. - Palavras e expressões linguísticas que substituem os entes no discurso são necessariamente ambíguas (isso assegura a universalidade e plasticidade do idioma) e acumulam sentidos, pelos quais transitam juízos de valor. Conforme o princípio binário da lógica booleana, os componentes das línguas podem ser reduzidos a duas categorias: a dos entes e a das funções – ou seja, (a) dos seres e coisas de qualquer espécie, e (b) de suas ações, estados ou relações de uns com outros. Nomes referem-se a um ente único ou a conjuntos de entes. Os nomes genéricos correspondem a relações funcionais dos entes (ações e estados), analogias, proporções e contiguidades: listados, constituem as definições que se encontram nos dicionários. Comparações e superlativos; o real e o simulado; sublimação, degradação e regulação são alguns dos operadores utilizados, ora para especificar, ora para conduzir ou deformar o sentido: líder, governante ou ditador; soldado, guerrilheiro ou terrorista; gracejo ou assédio; direitos ou privilégios. Quem domina, de fato, o sentido do que ouve e repete? Esses mecanismos de composição de significados operam não só na arquitetura das palavras mas também na estrutura das locuções e sentenças. Se Romeu ama Julieta, temos aí um “amante”, a “amada” e o “amor”, rótulo que se dá à relação funcional proposta entre eles. Ocorre que dar nomes – rotular – uma função é ato arbitrário, porque funções são abstrações, não entes; designam coletivos idealizados – daí a necessidade de símbolos ou materializações, como Cupido (o amor), a Ceifadora (a morte) ou Têmis, de olhos vendados, segurando a balança (a justiça). A estratégia consiste em manter imprecisa a designação desses conceitos complexos quando convém – como no caso dos amores, que são de várias espécies e umas se inocentam pelas outras; ou, pelo contrário, suprimir a ambiguidade, elegendo paradigmas arbitrários (por exemplo, uma forma institucional) para conceitos essenciais, conteudistas, como democracia ou justiça. Outras categorias funcionais decorrem da linguagem e só existem em decorrência dela – portanto, para os homens, É o caso da culpa, que as religiões tanto ressaltam; das causas e finalidades (que interpretam, nas narrativas, indiferentemente, o que é consecutivo, implicado ou concomitante); da verdade, que só existe nos enunciados verdadeiros e, portanto, não pode existir sem que haja quem os produza. Leões não se culpam de matar gazelas, não as odeiam, matam por necessidade ou contingência; são indiferentes a qualquer verdade porque desconhecem proposições; e jamais cogitam de intenções ou motivos. Os homens idealizam e se fingem de leões, águias, gazelas, ratos, vermes e amebas. Exibem-se ou se disfarçam; para ambos os usos servem as palavras.


Comentários:

Deixe um comentário:

Somente usuários cadastrados podem postar comentários.

Para fazer seu cadastro, clique aqui.

Se você já é cadastrado, faça login para comentar.

ENQUETE

Municípios da região vão ter que ajudar a bancar contas do hospital Ruth Cardoso. Qual sua opinião?

Justo! Se moradores de várias cidades utilizam, todos têm que ajudar e decisão judicial está correta

O hospital deveria ser regionalizado e bancado pelo Governo do Estado

Não vejo necessidade. Muitos trabalhadores de Balneário Camboriú vivem nas cidades vizinhas

Nao tenho opinião sobre a decisão judicial



TV DIARINHO


Uma batida entre uma Montana, uma Parati e um poste de luz deixou um motorista de 45 anos gravemente ...





Especiais

NA ESTRADA

BC oferece rolês gastronômicos, culturais, de compras e lazer

RIO GRANDE DO SUL

São Leopoldo: a cidade gaúcha onde quase todos perderam o lar

RIO GRANDE DO SUL

Governo Eduardo Leite não colocou em prática estudos contra desastres pagos pelo estado

Retratos da destruição

“Não temos mais lágrimas pra chorar”: A cidade gaúcha destruída pela 3ª vez por enchentes

MEIO AMBIENTE

Maioria de deputados gaúchos apoia projetos que podem agravar crise climática



Colunistas

Artigos

O combate ao abuso e à exploração de crianças e adolescentes é um compromisso coletivo

Jackie Rosa

Niver da Chris

JotaCê

Amin responde Chiodini

Mundo Corporativo

A importância do equilíbrio da autoestima no mundo organizacional

Coluna Esplanada

Palácio x Lira

Gente & Notícia

Níver da Margot

Ideal Mente

Luto coletivo: navegando juntos nas ondas da perda

Show de Bola

Vitória da base

Direito na mão

Mulher entre 54 a 61 anos: como antecipar a aposentadoria?

Via Streaming

“Justiça”

Coluna Exitus na Política

Vontade e solidariedade

Na Rede

Traficante preso na  sala alugada da JS Pescados, tragédia  no RS e destruição do jardim de “dona Aurita” foram os  assuntos mais bombados da semana

Coluna do Ton

Chegando de Mendoza

Histórias que eu conto

Armação da infância II

Foto do Dia

“O mar, quando quebra na praia”

Coluna Existir e Resistir

Designação geral sobre o fim do mundo

Coluna Fato&Comentário

Anuário de Itajaí - 100 anos da 1ª edição




Blogs

Blog da Jackie

Tá na mão!!!

A bordo do esporte

Robert Scheidt escolhido embaixador da Semana de Vela de Ilhabela

Blog do JC

Visita na choupana do Chiodini e Rebelinho

Blog da Ale Francoise

A pílula da felicidade

Blog do Ton

Amitti Móveis inaugura loja em Balneário Camboriú

Gente & Notícia

Warung reabre famoso pistão, destruído por incêndio, com Vintage Culture em março

Blog Doutor Multas

Como parcelar o IPVA de forma rápida e segura

Blog Clique Diário

Pirâmides Sagradas - Grão Pará SC I

Bastidores

Grupo Risco circula repertório pelo interior do Estado



Hoje nas bancas


Folheie o jornal aqui ❯








MAILING LIST

Cadastre-se aqui para receber notícias do DIARINHO por e-mail

Jornal Diarinho© 2024 - Todos os direitos reservados.
Mantido por Hoje.App Marketing e Inovação