PÓS-COVID

Estudos indicam que doença pode causar sequelas irreversíveis

Pesquisa demonstrou que mesmo pacientes que tiveram contágio leve podem desenvolver complicações

Radialista de Itajaí enfrenta inflamação no sistema nervoso  causada pelos efeitos do coronavírus {Foto: João Batista}
Radialista de Itajaí enfrenta inflamação no sistema nervoso causada pelos efeitos do coronavírus {Foto: João Batista}
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Estudos no mundo inteiro tentam entender as sequelas deixadas pela covid-19 em pacientes que conseguiram se recuperar da doença. O coronavírus pode provocar falta de ar, perdas do olfato e do paladar e cansaço. Mas esses e outros sintomas podem persistir após o contágio, indicando complicações respiratórias e neurológicas, inclusive casos graves e duradouros, conforme indicam as últimas pesquisas.

Em Itajaí, o radialista Rubens Menon, de 54 anos, se recupera da doença, após ficar 10 dias internado em um hospital de Curitiba, onde foi constatada uma inflamação no sistema nervoso central como sequela da covid. Ele testou positivo em 17 de fevereiro, com sintomas leves. Mas durante o isolamento domiciliar, Menon passou a sentir formigamentos nas pernas e nas mãos, bem como dores no corpo e aumento da pressão arterial.

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Os exames iniciais não apontaram nada anormal. Em busca de um diagnóstico mais preciso, ele foi pra Curitiba, onde o quadro piorou e acabou hospitalizado. Os exames descartaram trombose pós-covid e AVC, mas detectaram uma neuropatia como sequela. Em Curitiba, Menon passou por tratamento de choque medicamentoso.

A paralisia no lado direito do rosto passou, mas o radialista ainda tem dormência nas mãos e pernas e está com o paladar afetado. Ele voltou pra Itajaí na sexta-feira passada, iniciando sessões com o fonoaudiólogo e fisioterapeuta. “Um mês atrás eu estava jogando bola”, lembra, destacando que a sensação de cansaço é constante e que já perdeu nove quilos. 

Menon fez consulta com neurologista ontem e tem que fazer novos exames pra avaliar a situação do sistema nervoso. Há suspeita da síndrome de Guillain-Barré, doença grave na qual o sistema imunológico ataca as células nervosas, provocando inflamação nos nervos. Mas o os próprios médicos não tem certeza do que pode ser.

“Dá uma angústia, mas estou conseguindo manter a cabeça tranquila. Desistir eu não vou”, relata. Ele agradeceu as mensagens de carinho. “É uma sensação de impotência, mas o apoio tem dado muita força”, contou.

Complicações graves e duradouras

Um dos estudos mais recentes é o do cardiologista brasileiro Roberto Yano e do neurocientista português Fabiano de Abreu. Eles concluíram que a covid-19 pode causar sequelas irreversíveis, após pesquisa dos efeitos da doença nos sistemas nervoso e cardiovascular.

A perda do paladar ou do olfato está entre as complicações que podem persistir pro resto da vida. “Isso está relacionado à lesão causada, principalmente, nos neurônios sensoriais”, explica Fabiano de Abreu. Além dos danos nas células neurológicas, a doença pode levar a traumas psicológicos.

“A própria infecção pode causar traumas que afetam a nossa capacidade cognitiva e que podem resultar em transtornos, síndromes ou outras variáveis futuras”, esclarece, destacando preocupação ainda com a saúde mental da população em geral, que enfrenta uma pandemia pela primeira vez.

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Em relação ao coração, o cardiologista Roberto Yano diz que, nos casos mais graves de covid, há chance de sequelas cardiovasculares, como insuficiência cardíaca, infarto e AVC. Ele frisa que os estudos vão ajudar a conhecer melhor a doença e entender quais sequelas permanentes ela deixará.

As pesquisas mostram que mesmo pessoas com sintomas leves e moderados de covid podem ter sequelas. Além das complicações no sistema cardiorrespiratório, pressão arterial e diabetes, entre as mais relatadas, um estudo do instituto do Coração (Incor) apontou disfunções cognitivas em 80% dos pacientes.

Problemas de memória, concentração e raciocínio podem ser sinais ligados à queda do nível de oxigênio nos infectados. Outro efeito foi a perda da coordenação motora, devido à queda na capacidade perceptiva.

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Pulmões fragilizados pela doença

A radialista Simone Rigotti, de 48 anos,  pegou covid no mês passado. Os sintomas avançaram de dor no corpo e febre para dor de garganta, tosse e falta de ar. Ela foi identificada com inflamação no pulmão e aos poucos está recuperando o fôlego, ainda com um pouco de tosse. O marido também se infectou mas não teve a inflamação nos pulmões.

Na semana passada Simone fez consulta com um pneumologista. “Ele disse que o meu pulmão estava bom, que o que eu estava sentindo era normal e que isso pode demorar até três meses pra passar,” relata. Simone ainda sofreu com a perda do paladar, mas está voltando a sentir o gosto das coisas.

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Ela destacou que se mantém atenta quanto a eventuais complicações decorrentes da covid. “Eu estou mais tranquila agora, porque o médico me avaliou, mas a gente nunca sabe. Estou sentindo que eu estou cada dia mais forte”, diz.

A jornalista e técnica em radiologia Cláudia Cristina Batschauer, de 47 anos, teve a confirmação de covid em 25 de fevereiro. Ela sofreu com febre, dores no corpo e dor de cabeça que não passava nem com analgésicos. A situação piorou com o fechamento da garganta, tosse, diarreia e dor no peito.

Cláudia só voltou ao trabalho e a conviver com a família na semana passada. Ela teve comprometimento de 10% dos pulmões por infiltração e segue em tratamento. “Ainda tenho cansaço, tosse, dor no peito e momento de dores nas costas, na área do pulmão”, relatou.

Centro pós-covid

Após três meses de funcionamento, o centro de Reabilitação Pós-Covid de Itajaí já atendeu mais de 214 pacientes, 107 deles ainda com tratamento em andamento. A unidade especializada conta com equipe multiprofissional para pessoas com sequelas respiratórias, motoras ou emocionais.

De acordo com a gerente do centro, Fernanda da Rocha Luz, os principais relatos dos pacientes pós-covid envolvem dificuldades para respirar, cansaço e alteração no paladar e no olfato. Na área emocional, as queixas são de ansiedade.

A maior parte dos atendimentos é de fisioterapia, que preveem atividades para recuperar a capacidade respiratória. São cerca de cinco pacientes atendidos por dia. Fernanda destaca que, de um mês pra outro, as atividades já dão resultado, com o tempo de recuperação se estendendo de quatro a 12 semanas.

O paciente passa por avaliação de especialista e inicia a reabilitação conforme a gravidade das sequelas. O atendimento é através de encaminhamento da rede básica de saúde.



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