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Viver em bolhas: o tempo e as coisas


Viver em bolhas: o tempo e as coisas

Vivemos em bolhas sociais, e isso há muito tempo. Construímos, individualmente, uma percepção pessoal do mundo. No início de nossas vidas absorvemos tudo o que é possível do mundo ao nosso redor. Interiorizamos o que nos é exterior: pessoas, idioma, preferências alimentares, formas de comportamento, agressividades, carinho, as correspondências de beleza, as regras, as coisas e o tempo.... Aprendemos a viver: a viver em grupo, com regras de convivência interpessoais!
Na geração das redes sociais, aparentemente, as regras de convivência interpessoais desaparecem. Diante das telas, num mundo feito de bolhas, interagimos com outros e com o exterior em modo “distante”. A qualquer momento tudo muda sem constrangimentos. Cada página nova da internet é uma nova relação, uma nova “casa”, uma outra bolha. Se não gosto, mudo e estarei à procura de um “lugar confortável”: eu comigo!
A recorrência à “bolha”, recurso didático para exprimir que cada bolha de sabão escorrega pelo ar de modo singular e que, a qualquer variação de pressão [interna-externa] ou por qualquer impacto se desfaz, ilumina a maneira despropositada de se carregar os dias, de se passar o tempo, de se fazer vivo. Viver voando pelo vento, mais leve que o ar, à “revelia” da atração gravitacional, corremos sem rumo: voar, subir, descer, ir por onde for! O propósito da vida é como uma caminhada sem destino, do imediato, a agir por abstenção, por descompromisso, pela não-responsabilidade, por si e consigo.
A vida em um vilarejo exige as interações entre as pessoas, entre o indivíduo e o meio, entre a moral e o comportamento, e estabelecem um “regulamento social”, uma “cultura de convívio” àquela existência. Há responsabilidades sociais entre os integrantes tem uma história comum a ser contada. As pessoas se integram naquela história de todos, se envolvem em sua trajetória e se reconhecem diante dos outros. O tempo e as coisas se encaixam.
A vida em bolhas dissolve a “criatura” em várias encenações não relacionadas entre si, ao sabor dos ventos, deixando escapar a sensação do amanhã, a desencaixar as coisas e o tempo. A vida em bolhas dispensa os compostos do compromisso social, o tempo como Senhor dos Destinos e tira da promessa seus encantos. A história comum, a história do todo e de cada um no todo são ditadas em emojis. Ao se “viver” como conteúdo de bolhas e como condição de autorreferencia, a história do indivíduo se perde num dos caminhos quaisquer das bolhas. Como são muitas bolhas que, ao se chocarem explodem, a desintegração do indivíduo lhe tira a vida social. As responsabilidades e empatias, conquistas e derrotas, euforias e tristezas, emoções de todos os tipos, se dispersam tal qual o sujeito num quarto escuro. As coisas e o tempo não se encaixam: estão da porta para fora, no deslocamento do privado ao público, do pessoal em coletivo!
A Política, como arte de envolver a esperança na vida das pessoas, se perde no ar. As abstenções dos eleitores são, ao mesmo tempo, abstenções sobre a história. Não importa muito se os outros vão decidir por mim o trajeto de um caminho comum. Aos “bolhas”, o fundamental é que não se intrometam no caminho individual; aos abstêmios o tempo e as coisas não precisam se encaixar, o individual e o coletivo não precisam se encaixar. As responsabilidades das escolas são ainda maiores, para que não precisemos institucionalizar o encontro de amigos.


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