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Livres e iguais (ou: eu não sou comunista nem neoliberal!)


A melhor forma de nos tornarmos iguais é aceitarmos as nossas diferenças. Quando nascemos somos apresentados a uma sociedade milenar com uma estrutura já definida, com regras preestabelecidas para parecermos com o resto. Desde sempre, quando defini pela primeira vez o sentido de tudo isso que chamamos “regras da sociedade”, percebi que eu não era um conservador. Conservadores querem preservar as instituições, as tradições e a moral. Não importa que instituições, que tradições e que moral. Diante disso, a maioria de nós se acomoda e se acovarda. Em troca, é facilmente aceito no meio em que vive. Seguindo a regra geral, é facilmente tolerado pelos demais e, desta forma, se satisfaz com a recompensa que esta subserviência traz.

Eu sempre fui um libertário. Mesmo que não sabendo por muito tempo o que isto significava. Libertários são pessoas que têm como fundamento a defesa da liberdade individual, da não-agressão, da propriedade privada e da supremacia do indivíduo. Como somos defensores das liberdades individuais, muitas vezes nos confundem com anarquistas. Como lutamos pela supremacia do indivíduo (e não do capital), muitos nos consideram comunistas. Em contrapartida, os comunistas acham que somos neoliberais, pois acreditamos que a propriedade privada deva ser protegida pelo Estado. E por termos uma política de não-agressão, a nossa força política é quase nula. Não sinto que nenhum partido me represente, apesar de ter tido simpatia por alguns políticos de centro-esquerda, tais como os falecidos Covas, Ulysses, Ruy Barbosa, Darcy Ribeiro e Brizola, ou os ainda vivos Eduardo Suplicy, Pedro Simon e Olívio Dutra. E o que eles têm a ver uns com os outros? Tiveram sempre “ficha limpa”, fidelidade partidária (exceto o Brizola – mas somente por ter perdido judicialmente o direito à sigla PTB), propuseram a redução dos tributos, defenderam a educação como a obrigação maior do Estado, foram oradores carismáticos. Entretanto, de partidos bastante diversos.

Mesmo assim, os meus amigos esquerdistas me acusam de “reacionário de direita” e a minha sogra perguntou, no último final de semana, se era verdade que eu era petista! Eu não sou comunista, liberal, neoliberal, petista, esquerdista, reacionário ou de direita. Portanto, eu sou um libertário!

E é por ser libertário que eu prezo muito as possibilidades de dizer o que eu penso e a minha liberdade como homem. Eu sou heterossexual, casado com uma mulher maravilhosa e com uma filha linda. Eu poderia não me meter nessa discussão sobre casamento gay e as religiões – iria evitar usar o meu precioso tempo com isso e ainda me indispor com muita gente (a maioria?). Eu poderia simplesmente estar vendo o último capítulo da novela das oito (nove? dez?) – coisa que a maioria dos brasileiros está fazendo enquanto eu escrevo este texto! Mas eu não consigo.

Eu não canso de escutar aquela frase clássica: “religião, política e futebol não se discute”. Eu discuto! Dizer que homem com homem ou mulher com mulher não podem casar é um conceito secular arraigado na hipocrisia que se sobrepõe ao medo que a minoria tem de dizer o contrário. E eu não me importo de ser minoria. Eu não estou defendendo os LGBTs por que tenho amigas lésbicas, amigos gays e pacientes transgêneros. Eu os defendo porque sou libertário.

Hoje, eu quero que quem quer que queira casar que se case (confesso: essa frase foi um “trava-língua”) . Amanhã, eu quero que o que quer que eu queira fazer, desde que respeitando a Constituição, eu possa fazer. E se o que eu quero fazer não estiver previsto na Constituição, mas não faça mal a ninguém, que o Judiciário proteja os meus direito diante da morosidade do Legislativo e da soberba do Executivo. Liberdade, ainda que tardia!

A única coisa que eu acho estranha nessa história dos gays defendendo que querem casar é que, enquanto isso, a maioria de nós – homens – quer fugir do casório. Ou seja, no quesito casamento, nós somos os acovardados, eles – os gays – é que são machos!? Já dizia o Rafinha Bastos: “O casamento é um momento mais feliz para a mulher do que para o homem, não é à toa que ela usa branco e ele preto.”

Como adoro remar contra a maré e dizer o que penso, independentemente do que você pense a respeito – EU SOU A FAVOR DO CASAMENTO GAY. Não simplesmente por ser contrário, neste caso específico, à força bruta de 42 milhões de protestantes que existem no Brasil ou da maioria que se declara “católica não-praticante” (às vezes, só por vergonha de dizer que é kardecista, da umbanda ou do candomblé). Mas sim por saber que defender os direitos dos LGBTs é defender as liberdades individuais.

Lembram quando as mulheres e os afrodescendentes não podiam votar? Pois é, pessoas que são contra os direitos humanos e as liberdades individuais costumam ter interesses obscuros de dominação, escravização e expropriação dos demais.

Enfim, para não me alongar mais no tema: eu só escrevi isto para parabenizar o CNJ [Conselho Nacional de Justiça] pela liberação do casamento de pessoas do mesmo sexo no Brasil. E também para registrar aqui o meu total desprezo pela maior parte dos bispos da CNBB, pelo deputado Jair Bolsonaro, pelo pastor Silas Malafaia, pelo deputado Magno Malta, pelo governador Beto Richa e pelo pastor Marco Feliciano.

Eu não sou mulher, gay ou negro, mas eu sou igual a eles. Vamos construir um mundo que seja livre e igualitário!

* O autor é médico neurologista


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