Em dezembro de 2001, reinaugurou-se a Praça Pe. Pedro Baron. Esta pracinha existente há muitos anos no final da rua Brusque, foi então remodelada e recebeu o busto, em bronze, de seu homenageado. Aposto que poucos sabiam de seu nome, mas com o novo traçado do sistema viário, na conjunção das ruas Brusque, José Eugênio Müller e José Gall, já perdeu um pedaço para a rótula. Ficou menor, é verdade, mas fez por merecer um novo tratamento. A turma que se formou no ginásio em 1961, há 63 anos portanto, comemorou a data em 2001 e penso que tal festa dos ex-alunos salesianos tenha também motivado a remodelação da praça.
O padre Baron, em bronze, ficou de frente para a sua obra, o Parque Dom Bosco. O busto de autoria da artista plástica N. Dina, nos levou a inúmeras recordações. A artista que não conheceu o retratado, baseou-se em uma série de fotografias antigas. Tais fotos, de frente, de perfil, de perto, e de longe, foram tiradas em épocas diversas ficando difícil o estabelecimento de um padrão para a figura. Por isso, na época, Renato Wöhlke, Édison d’Ávila e eu fomos lá no estúdio verificar o andamento da modelagem em argila, o primeiro e mais importante passo da obra. Enquanto isso, comentávamos sobre a figura deste padre, o primeiro diretor do então Ginásio Salesiano de Itajaí. Italiano, de Turim, tinha até falecer um pequeno sotaque que traía sua origem. Quando a escultora quis modelar a batina, nos lembramos da roupa lisa, sem faixas ou cordões, dezenas de botõezinhos de alto a baixo e um colarinho branco de celuloide.
Nos dias de sol, usava um chapéu bem eclesiástico, de abas retas e copa redonda. Os sapatos, parece que todos os padres os tinham do mesmo tipo: pretos, bico redondo, de amarrar.
Era um homem de maneiras elegantes, grande e gordo. Até hoje me admiro daquele corpanzil empoleirado em um banquinho alto na hora que, depois das orações, se dirigia aos alunos nos “bom-dia” e nos “boa-tarde”. Suas missas, ao contrário das do Pe. Otávio sempre ligeiras e curtinhas, eram tradicionais, solenes, sérias. Lembro-me do Pe. Baron lecionando francês da primeira à quarta série do ginásio, idioma do qual ele tinha pleno domínio. Outra matéria que lecionou foi “Civilidade”, com um compêndio que tinha uma rosa na capa. Tentava nos dar uma noção de bons modos, bom comportamento, boa postura, enfim, um polimento geral. Lembro que aí se discutiu a falta de higiene do costume de se depositar o papel higiênico usado em cestos, dentro dos banheiros. Devia-se jogá-lo no vaso e dar a descarga. Ao comentar isso em casa, meu pai, naqueles tempos de canalizações precárias em manilha, retrucou rápido: “E quem vai desentupir a patente?”
Há alguns anos, ouvi comentários de outro padre da época sobre a rigidez e disciplina que mantinha mesmo sobre seus companheiros de colégio. Controlava a saída e a entrada de todos eles e ai daqueles que voltassem tarde das poucas saídas que ousavam ter ou das raras sessões de cinema que vez por outra frequentavam.
Minha bisavó, Elisabeth Malburg, foi uma pessoa que deu muito apoio nos primeiros tempos do Ginásio. No dia de seu aniversário, 12 de outubro, ela reunia a família em sua casa, já para o café da tarde. Neste dia eu levava ao diretor um bilhete de meu pai, pedindo para sair na hora do recreio. Antes de soar o sino do intervalo, Pe. Baron mandava me avisar em classe, para passar em seu gabinete antes de ir embora. A gozação era grande: “olha a bronca!” Na verdade, queria fazer-me portador de um pequeno presente à benfeitora do colégio que eu, todo importante, entregava à ela.
Em 1966, meu irmão que ingressava no Colégio Estadual do Paraná para cursar o Científico ainda não existente por aqui, pediu-me para conseguir um documento no Ginásio. Reencontrei então o Pe. Baron. Interessado, quis saber detalhes da faculdade de Arquitetura que eu estava cursando e perguntou-me sobre a saúde de meu tio, Félix Malburg, engenheiro da construção que se erguia, do novo colégio. Por acaso eu acabara de vir do Hospital Marieta, onde visitara o tio internado. Ao saber disso, imediatamente me fez levá-lo até lá para visitar o amigo. Foi a última vez que vi os dois. Tio Félix faleceu em poucas semanas; o Pe. Baron, um câncer galopante o levou pouco depois.
Ficaram suas obras para sempre. Inspirado nos princípios do grande educador e fundador da ordem salesiana, São João Bosco, fez de um pequeno Ginásio o Colégio que hoje temos e, para a assistência à juventude, o Parque Dom Bosco, instituição para onde ele, em bronze, olhará com desvelo todos os dias.