Meio Ambiente
Juarez Müller, o homem das árvores e flores, recebe homenagem na Câmara de Vereadores
Engenheiro Agrônomo trabalha há quase 50 anos na revitalização de áreas verdes e batalha pela conscientização ambiental
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
A tarde do dia 30 de novembro foi de muita emoção para quem acompanhou a sessão legislativa em homenagem ao engenheiro agrônomo Juarez José Vanni Müller, 70 anos. Ele foi agraciado com uma moção honrosa em reconhecimento há cinco décadas de trabalho voltado para a recuperação de parques, praças e florestas e como voluntário de projetos educativos para reconectar os jovens a natureza. A moção é de autoria da vereadora Aline Aranha (DEM).
A vereadora, que também é enteada de Juarez, contou no plenário que acompanha de perto, há mais de 30 anos, sua luta incansável e, muitas vezes frustrante, de deixar um legado de preservação ambiental para as futuras gerações. “Como profissional, Juarez é um exemplo de ética e de doação sem limites em prol de seres que não falam e não se mexem, mas que significam muito para nós: as árvores”, resume Aline.
Melhor exemplo disso foi a assessoria técnica que ele prestou, de forma voluntária, para que o espaço onde havia o prédio dos Correios, no centro, fosse destinado ao lazer e bem-estar dos moradores numa inédita praça construída por voluntários. Além de identificar as espécies nativas que melhor se adaptariam à praça, ele colocou a mão na massa e comandou o plantio das dezenas de árvores que deixam o espaço cada dia mais verde. A praça também abriga, agora, a famosa figueira que foi transplantada da rua 15 de Novembro. A operação foi bancada pela construtora que comprou o terreno onde a árvore estava há décadas. Depois de meses de preparação, o transplantio aconteceu mês passado, num local cercado de mudas de pau-brasil, ipê branco e garapuvu.
Aline lembrou também que Juarez está na vanguarda do combate ao aquecimento global quando foi escolhido representante brasileiro do comitê da ONU para banir substâncias que corroem a camada de ozônio, responsável por filtrar as radiações ultravioletas que provocam câncer. Antes da virada do milênio, sprays como desodorantes e inseticidas, mas também geladeiras, extintores de incêndio e ar-condicionado continham o gás CFC, que provocava o “efeito estufa”. Hoje o gás mais utilizado é o GLP. O marco histórico para redução do CFC aconteceu em 1987, quando foi assinado o Protocolo de Montreal.
Taxado de comunista por realizar o 1° Encontro de Ecologia do Brasil
A preocupação de Juarez em preservar os ecossistemas vem de longa data. Ele é natural de Passo Fundo (RS), onde cursou Agronomia nos anos 70. No plenário da Câmara de Vereadores, ele relembrou como foi difícil criar um evento ecológico quando era presidente do centro acadêmico da faculdade. “Em 1973, eu tive a ideia de fazer um encontro para discutir a preservação ecológica e fui chamado de maluco pelos colegas e de comunista pelos professores. Naquela época (de ditadura militar) era uma loucura!”, relata.
Em Itajaí, ele chegou em 1976 para trabalhar numa empresa estatal, que depois se tornaria a Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de SC). Suas primeiras impressões da cidade foram o cheiro do mar e a brisa litorânea, mas ficou impressionado com a falta de áreas verdes. Para reverter esta realidade, Juarez fez estudos sobre as florestas remanescentes para reflorestar áreas degradadas. Segundo a Reserva de Biosfera da Mata Atlântica (RBMA), o Estado tem pouco mais de 17% da mata original.
Uma árvore para Itajaí chamar, pra sempre, de sua
Ao longo das décadas, o engenheiro agrônomo participou de várias ações para sensibilizar o povo sobre a importância de preservar a natureza. Em 2006, ele promoveu uma eleição para a árvore-símbolo de Itajaí, em parceria com a prefeitura. A escolhida foi a buganvília, a popular primavera. Em seu discurso de agradecimento, Juarez lembrou do episódio.
“Foram 24.490 votos. Eu mandei as cédulas à rede estadual e municipal de ensino e às escolas particulares. As pessoas podiam votar pela internet. Quando saiu o resultado, o prefeito perguntou em qual eu havia votado e eu me toquei que tinha esquecido de votar. Mas disse que a intenção não era torcer por uma delas, mas fazer as pessoas conhecerem e valorizarem as plantas nativas. Ninguém ama ou cuida do que não conhece”, justificou.
Antes da pandemia, Juarez tinha um projeto de educação ambiental na comunidade de São Braz, em Piçarras, para conscientizar os jovens que não é a Terra que está em risco, e sim os humanos. O surgimento do coronavírus demonstrou mais uma vez que ele tinha razão. Quanto mais o espaço natural é invadido, mais doenças silvestres podem passar para nós.