Cenário
PDT de BC sofre saída em massa
Debandada ocorreu após rompimento do partido com a base governista do prefeito Fabrício Oliveira (Podemos)
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]
Um dos partidos com mais filiados em Balneário Camboriú, o PDT, sofreu uma nova baixa semana passada com uma carta de desfiliação assinada por 18 pessoas, entre elas a secretária-geral do partido, Ketlin da Rosa Talevi, cunhada do presidente da executiva municipal da sigla, Rodrigo Talevi. A debandada se soma a outros nove partidários que anunciaram a desfiliação em carta conjunta no final de maio.
As desfiliações ocorrem após o PDT desembarcar da base do governo Fabrício Oliveira (Podemos). Nas duas últimas eleições, o partido apoiou a candidatura do atual prefeito, sendo que em 2020 a adesão à chapa só foi confirmada na última hora. A saída de filiados seria uma reação contra decisões isoladas dos dirigentes. O rompimento com o governo foi visto por um grupo como decisão “autoritária” e, por outro, “mesquinha”.
A debandada de 18 filiados veio acompanhada de um manifesto que não poupou críticas e acusações aos dirigentes locais do partido, inclusive por condutas machistas. “Os processos democráticos internos partidários não são o forte do PDT. Não há eleições internas, pessoas se perpetuam no poder internamente, não permitindo que novas lideranças surjam”, diz a carta.
A maioria no grupo é mulher, com nove filiadas que foram candidatas nas eleições de 2020 e que contribuíram com 30% dos votos da sigla, permitindo as duas cadeiras na câmara, hoje ocupadas pelos vereadores Patrick Machado e Eduardo Zanatta.
O grupo relata que o movimento Ação da Mulher Trabalhista, que abraçou causas de minorias, negros e população LGBTQIA+, além de defender maior participação das mulheres na política, vinha sendo desprezado pela atual direção, num processo que se agravou em 2020.
“Durante o período pré-eleitoral e toda a campanha sofremos calúnias. Mesmo tendo uma Executiva Municipal eleita, somente participaram das negociações alguns poucos escolhidos, todos homens brancos, envolvidos na reeleição do então único vereador [Patrick Machado]”, lembra o grupo.
A carta ainda fala da falta de debates internos e de reuniões a porta fechadas entre “alguns homens brancos”. Os filiados que questionaram os dirigentes teriam sido tachados de desleais e às mulheres foram chamadas de “loucas”, “pilantras” e “sem noção”, segundo o manifesto.
Presidente fala em grupo de “insatisfeitos” e “descontentes”
Segundo o presidente da executiva, Rodrigo Talevi, que é assessor parlamentar no gabinete do vereador Patrick Machado, o grupo que se desfiliou é diverso e algumas pessoas já tinham se desligado no ano passado antes das eleições, por inúmeros motivos.
“Alguns insatisfeitos com o resultado que esperavam e assim perdendo espaço interno, outros por causa de cargos que o partido deixou de ter no desligamento do governo e também pessoas descontentes com a direção municipal e estadual do partido”, explica. “Infelizmente, isso acontece quando existe um processo de eleições municipais onde temos 29 candidatos e candidatas e somente dois conseguem a eleição”, completa.
Sobre as acusações feitas contra ele, Rodrigo preferiu não “rebater ou devolver acusações”, destacando que o partido fez um trabalho sólido em Balneário nos últimos anos. “Nosso compromisso com todos que vieram para o partido foi de oferecer um espaço com condições de eleição, e isso ocorreu. Fomos o único partido da cidade com nominata completa e que conseguiu eleger dois vereadores com menos de 550 votos cada”, lembra.
O presidente agradeceu a contribuição à sigla das pessoas que se desfiliaram, ressaltando que a saída foi da liberdade de escolha de cada um. “O PDT de BC segue firme trabalhando, filiando novos membros, inclusive teremos em BC candidaturas para deputado Estadual e Federal, além da construção do projeto presidencial do Ciro Gomes”, informa.
Conforme dados da justiça eleitoral, o PDT de Balneário tinha 1697 eleitores filiados até maio, atrás somente do PSDB (2758) e MDB (2454) em número de filiações.
Rompimento com o governo
Na nota sobre a decisão de sair da base do governo, a executiva municipal do PDT aponta que o projeto de lei que dispensa a prefeitura do repasse para o fundo de saúde dos servidores (Funservir), aprovado na câmara, foi a principal divergência para o rompimento.
No comunicado, a direção informa que a prioridade da sigla pra 2022 é ajudar o projeto de país representado pela candidatura de Ciro Gomes à presidência, discutindo regionalmente as propostas e construindo o projeto trabalhista também para Balneário em 2024, no pleito municipal.
Na noite de quinta-feira, o PDT de Balneário fez a reunião mensal online, ampliada para filiados e simpatizantes para discutir os rumos do partido. A sigla informou que foram anunciadas novas filiações.
Também foi debatida a participação do partido nos atos contra Bolsonaro e a organização para a campanha de Ciro Gomes na região, além da pré-candidatura a governador do ex-deputado Fernando Coruja.
Crise interna veio à tona após rompimento com governo
O grupo conta que, sem diálogo com os movimentos internos e sem saber como seria a participação do PDT no governo Fabrício, os membros passaram a desacreditar do partido, começando um processo de desfiliação após a campanha. A crise interna ampliou ainda mais com a decisão da executiva de deixar a base governista.
A saída foi classificada como “mesquinha” pelo grupo por não considerar motivos que seriam mais justos, como a incompatibilidade dos valores partidários com o governo atual. O rompimento, conforme a carta, foi devido ao prefeito não aceitar uma indicação do partido para composição do secretariado municipal.
A carta termina falando de uma interferência direta do presidente na gestão do movimento Ação Mulher Trabalhista em Balneário. “Houve ataques pessoais, houve ameaças diretas às mulheres, houve até mesmo um grupo de mulheres sendo usado como manobra no processo”, relatam no documento.