Cepa indiana
Nova variante deixa região em alerta
Confirmada na Argentina, variante da covid-19 já foi registrada no Brasil em tripulantes de navio indiano
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
O alerta sobre o risco da chegada da variante indiana do coronavírus ao estado também preocupa a região. As prefeituras fazem o monitoramento dos exames pra identificar possíveis casos suspeitos de variantes. Ações de controle também estão sendo intensificadas pela agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nos portos e aeroportos contra a disseminação da nova variante.
Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul entraram no mapa de alerta do ministério da Saúde após dois casos da variante serem confirmados na Argentina na semana passada. A nova mutação do vírus, conhecida com B.1.617, já foi detectada no Brasil, com o primeiro registro em São Luís, no Maranhão, na quinta-feira passada, envolvendo seis tripulantes de um navio indiano que atracou no porto do Itaqui.
No sábado, a agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) discutiu novas medidas pra contenção de novas variantes do coronavírus, com foco em fronteiras aéreas e aeroportuárias. O ministério da Saúde recomendou ações conjuntas com estados e municípios pra reforçar as medidas já adotadas pela Anvisa.
No porto de Itajaí e no aeroporto de Navegantes nenhuma nova ação ainda foi anunciada. Segundo a Anvisa, as medidas de controle foram "reforçadas". Internamente, a APM Terminals informou o reforço na higienização, além da manutenção de medidas preventivas gerais. O controle de tripulação é feito pela Anvisa.
Nos aeroportos o órgão trabalha na detecção de casos suspeitos, repassando os dados para as secretarias municipais e estaduais de saúde. Os municípios são responsáveis pelo atendimento, testagem e identificação de quem teve contato com infectados por covid e suas novas variantes.
Nos aeroportos, já está proibida a entrada no país de voos vindos da Índia, Reino Unido e África do Sul, países que tiveram variantes confirmadas, conforme recomendação da Anvisa. Nos principais terminais do país, o órgão está com ações específicas de abordagem de passageiros estrangeiros. Há propostas de criação de alertas sonoros e visuais sobre sintomas e prevenção nos aeroportos.
Em Balneário Camboriú, a secretaria Municipal de Saúde informa que não deve mudar as restrições e regras sanitárias já estabelecidas. “Porém, estamos atentos para o encaminhamento dos exames ao Lacen pra identificação do vírus em caso de suspeita em pacientes que viajaram para outros estados”, comentou a secretária Leila Crocomo.
Em Itajaí, a superintendência do porto informou que o terminal opera dentro da normalidade e que possíveis novas medidas só acontecerão a partir da definição do posto local da Anvisa. A secretaria de Saúde de Itajaí segue monitorando o surgimento de novas variantes e aguarda orientações do governo do estado sobre novas restrições. Até o momento, ainda não foram registrados casos confirmados ou suspeitos da cepa indiana do vírus em Santa Catarina.
Chegada do inverno deixa situação mais precupante
O professor da Univali, Raphael Nunes Bueno, especialista em Saúde Pública, destaca preocupação pela falta de um acompanhamento mais sistematizado e organizado no Brasil contra as novas variantes.
“Até pra fazer o controle genético dessas variantes é meio complicado. A gente não tem conseguido rastrear geneticamente essas variantes, o que torna mais complicado o controle e a diminuição da disseminação dessas variantes no país”, avalia.
Ele destaca a dificuldade também em se garantir o isolamento, diante da falta de ação padronizada no país, estados e municípios. Raphael alerta que o momento da pandemia é ainda mais crítico com a chegada do inverno.
“Tudo isso nos preocupa bastante, não só pela covid, mas também pelos outros fenômenos gripais dessa época”, afirma. Contra a nova variante, o especialista sugere que os estados da região sul articulem ações de controle e imunização junto aos trabalhadores dos portos e aeroportos, como as medidas já adotadas no Maranhão.
“Talvez os estados do sul devam começar a pensar na imunização pra alguns grupos prioritários e que estão mais suscetíveis de contraírem e transmitirem o vírus pra população,” completa.
Para Raphael, a retomada de restrições no estado vai depender do aumento do número de casos. Conforme foi o avanço da pandemia, ele entende que novas medidas precisarão ser avaliadas, além do monitoramento do risco e da vacinação.
As restrições da pandemia no estado estão vigentes até o dia 31 de maio, conforme o último decreto, que prorrogou as medidas. Novas alterações nas normas são discutidas. Por outro lado, o estado está mapeando os hospitais que podem receber novas UTIs pra ampliar a oferta de leitos, em preparação para o inverno e uma possível nova onda de contágio.
Variante seria mais contagiosa
A organização Mundial de Saúde (OMS) classificou a variante como “preocupação global”, por carregar uma dupla mutação do coronavírus. Estudos preliminares apontam que a variante é mais contagiosa. A relação das mutações com a ocorrência de casos mais graves da doença, que demandaria mais internações, ainda é pesquisada.
A variante tornou a Índia o novo epicentro mundial da pandemia, com recordes de mais de quatro mil mortes diárias. A nova cepa já foi identificada em ao menos 44 países. Na América Latina, a Argentina e o Brasil confirmaram os primeiros registros.
A eficiência das vacinas contra a nova variante também é estudada. Conforme pesquisa divulgada no final de semana pela agência de Saúde Pública do Reino Unido, as vacinas da Pfizer e da AstraZeneca, usadas no Brasil, são eficazes contra a nova cepa.