Centro de Itajaí
Sábado teve protesto contra a suspensão de live cultural
Polêmica iniciou após prefeito cancelar programa aprovado pela superintendência de cultura por repudiar o termo “Criança Viada”
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]
Um protesto público no mesmo horário em que estreariam os episódios do programa “Criança Viada Show, do projeto Roda Bixa” aconteceu na noite de sábado em Itajaí. O protesto foi uma reação à suspensão do programa cultural, anunciada através de um vídeo pelo prefeito Volnei Morastoni (MDB), na última sexta-feira. O prefeito também determinou a destituição dos membros da comissão municipal que fez a seleção do projeto cultural. O programa foi financiado através de verba federal.
Cerca de 30 pessoas se reuniram em frente à fundação Cultural de Itajaí, na rua Lauro Muller, no centro, às 20h. O ato foi proposto pelo Coletivo Epicena e teve apoio do grupo Mães pela Diversidade.
Joá Bitencourt, 21 anos, estudante de jornalismo e assistente de produção cultural, diz que o protesto rechaça o "ato arbitrário do cancelamento da live e da destituição da comissão técnica". “A gente entende que a ação da prefeitura foi arbitrária e autoritária. Ela culminou em uma sequência de acontecimentos onde a população LGBT+ é diretamente atingida”, acusa Joaá.
O universitário lembrou que em fevereiro deste ano, Itajaí teve uma vítima fatal da transfobia. A transexual Duda dos Santos foi executada a tiros na avenida Reinaldo Schmithausen, vítima do que seria um crime de ódio. “Essa censura foi mais uma ação que aconteceu contra a causa e sentimos o impacto direto. O prefeito, neste mesmo ato autoritário e arbitrário, destituiu a comissão avaliadora da Lei Aldir Blanc, que era uma comissão respeitada pelo setor cultural da região”, lamentou Joá.
A vereadora Hilda Deola (PDT) participou do ato de protesto. “Vi na internet muitas declarações de ódio e de fake news falando sobre o teor do projeto. Gostaria que o Daniel Olivetto tivesse todo e qualquer espaço para desmistificar tantas colocações que foram feitas. Eu e meu gabinete estamos dialogando com a equipe para auxiliar no que for possível dentro do âmbito legislativo para esclarecer essa situação”, afirmou Hilda.
A deputada estadual Luciane Carminatti (PT) prestou solidariedade ao grupo. Já os deputado Jessé Lopes e Ana Campagnolo, ambos do PSL, se posicionaram contrários ao projeto e prometeram cobrar ações do governo federal contra esse tipo de programa.
Suspensão
Na sexta-feira, o prefeito Volnei justificou a suspensão do projeto alegando ser inaceitável a expressão “Criança Viada Show” usada no material de divulgação do evento.
A intervenção, segundo o prefeito, foi feita porque o projeto foi credenciado através de verbas dos Prêmios e Projetos Artístico-Culturais, e, em tese, poderia confrontar o estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O caso foi remetido à procuradoria-Geral do município e também ao ministério Público.
Segundo os artistas, o Criança Viada Show é um projeto de memória e registros de cinco artistas homossexuais, que explanariam, em formatos de podcasts e vídeos, sobre suas trajetórias e vidas enquanto homosexuais. O projeto era direcionado ao público adulto.
O termo “Criança Viada” se tornou popular entre ativistas da causa em 2004, na figura do ativista Iran Giusti, que criou um blog onde discutia a experiência das pessoas homossexuais, principalmente homens gays, na infância e na adolescência, discutindo o bullying sofrido devido a comportamentos que destoavam de padrões sociais estabelecidos.