Tragédia no oeste
Atentado mata bebês e professoras de escolinha municipal
Assassino, de 18 anos, atacou com adaga [punhal] que comprou com o seu salário
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]
As risadas e a alegria do grupinho escolar da primeira infância deram lugar à dor, à tristeza e à revolta em uma tragédia ainda sem explicação, na pequena cidade de Saudades, no oeste de Santa Catarina. Um rapaz de 18 anos invadiu a creche municipal Aquarela, na manhã de terça-feira, com a intenção de matar. Armado com um punhal, ele assassinou três crianças e duas professoras. Depois do ataque, ainda tentou tirar a própria vida. Ele foi socorrido e está internado em estado grave.
As vítimas do atentado foram Sarah Luiza Mahele Sehn, de um ano e sete meses; Murilo Massing, de um ano e nove meses; e Anna Bela Fernandes de Barros, de um ano e oito meses. A professoras Keli Adriane Anieceviski, 30 anos, e a agente educacional Mirla Renner, de 20 anos, também foram assassinadas.
O autor do ataque é Fabiano Kipper Mai, que completou 18 anos no último dia três de abril. Ele, que após o atentado tentou se matar com golpes de punhal no pescoço e na barriga, foi transferido para o hospital Regional do Oeste, em Chapecó, onde segue internado em estado gravíssimo.
Fabiano encontrou a professora Keli no corredor da escolinha e atacou a moça. Ela correu para se refugiar em uma sala de aula, onde estavam quatro crianças e mais uma professora.
Fabiano atacou todo o grupo. Duas crianças morreram no local e uma terceira foi socorrida, mas faleceu no hospital. A professora Keli morreu antes da chegada do socorrdo e Mirla chegou com vida ao hospital, mas não resistiu. Uma quarta criança foi ferida mais superficialmente e sobreviveu.
Fabiano só não fez mais vítimas porque foi imobilizado por vizinhos que ouviram os gritos de socorro. Os vizinhos pegaram barras de ferro para imobilizar o assassino. “Eu quero destacar o ato de bravura das professoras e de outros funcionários da escola, porque poderia haver mais vítimas,” explicou o delegado Jerônimo Marçal Ferreira.
O agressor ainda tentou invadir outras salas, mas as professoras e funcionários se trancaram com as crianças até a chegada de socorro. “Vale destacar a coragem dos vizinhos que conseguiram conter o agressor”, continuou o delegado.
Fabiano tinha duas armas, mas usou uma adaga – que é um tipo de punhal afiado – nas agressões. O punhal, segundo informações da polícia, foi comprado recentemente.
A comunidade de Saudades, em choque com o atentado, tem feito uma romaria de homenagens na porta da escola. Famílias levaram flores, faixas e cartazes. “Heroínas e anjos, para sempre lembrados”, dizia um cartaz.
A governadora interina Daniela Reinehr decretou luto oficial de três dias em Santa Catarina diante da tragédia.
A creche atendia crianças de seis meses a dois anos de idade.
Jovem tem um perfil problemático, apurou o delegado
O delegado de Pinhalzinho, Jeronimo Marçal Ferreira, responsável pela investigação, informou em coletiva à imprensa que o assassino agiu sozinho. Ele é morador da cidade de Saudades e não tinha passagens pela polícia.
O delegado adiantou que a investigação vai traçar o perfil de Fabiano para tentar entender o motivo do atentado. “Conversamos com os pais e a irmã. Ele tinha um perfil de rapaz problemático. Vinha sofrendo bullying na escola, não queria ir mais para a aula por conta disso. Maltratava os animais em casa e era muito introspectivo,” adiantou.
O rapaz gostava de ficar sozinho. “ É um perfil de jovem comum, que se tranca no quarto, gosta de jogos on-line, alguns de violência,” continuou o delegado.
O computador que o rapaz jogava em casa foi apreendido e será periciado pela polícia. O nome da escola onde Fabiano estava matriculado não foi informado.
Fabiano trabalhava e tinha guardados R$ 11 mil. “Ele não saía, não tinha namorada, então guardava o dinheiro que ganhava. Ele não tinha celular e tinha poucos amigos, que, inclusive, haviam se afastado dele recentemente”, falou o delegado.
Fabiano é de uma família humilde. “A irmã chegou a perguntar porque ele tinha comprado uma espada [o punhal] e ele falou que era para “maltratar” um bicho que a irmã tinha em casa”, explicou o delegado.
O delegado pretende interrogar o rapaz para entender os motivos da tragédia, mas o caso dele é grave. “Temos que aguardar a recuperação, porque ele passa por cirurgias. Queremos elucidar o que teria motivado a cometer esse crime”, conclui.