batalha judicial
Carta torna pública a disputa pelo comando da Uniavan
Depois da morte de Artenir Werner, familiares do falecido foram demitidos pelo presidente do centro universitário
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]
A disputa pelo comando do centro Universitário Avantis (Uniavan) após a morte do sócio-fundador, Artenir Werner, em dezembro de 2020, vítima de covid-19, se tornou pública com a divulgação de uma carta da reitora da instituição, Isabel Regina Depiné Poffo. A carta vazou pelas redes sociais junto com um texto apócrifo que traz acusações contra o presidente da instituição, Mohamad Hussein Abou Wadi.
Ao DIARINHO, Isabel confirmou que redigiu a carta, mas ressaltou que desconhece a autoria do texto que acompanha o documento por ela elaborado. Intitulada “Carta dos 100 dias” e datada do dia 26 de março, a mensagem de Isabel era restrita aos mantenedores da instituição, segundo afirmou a reitora à reportagem. “Era uma carta para os sócios, fazendo uma reflexão para resgatar os ensinamentos do seu Artenir”, disse.
A reitora se limitou a confirmar a autoria da carta, preferindo não comentar sobre as questões internas da instituição. A situação se tornou pública no mês passado, com o afastamento de membros da família Werner que tinham cargos na gestão e direção da companhia. O caso é discutido na justiça, onde há uma batalha de recursos nos tribunais.
Na carta da reitora, ela cita uma “crise moral sem precedentes” dentro da empresa após a morte de seu fundador. A mensagem alerta que os impasses na gestão estão interferindo diretamente na área pedagógica, já afetada pelos impactos da pandemia. Conforme o documento, equipes pedagógicas com coordenadores, professores e tutores estão sendo desmanteladas, prejudicando os estudantes.
“Agora, além do coronavírus, estamos sendo diuturnamente ameaçados pelo vírus do ódio, do rancor, da discórdia, da perseguição que acometeu a nossa empresa”, diz um trecho do documento. “Discordo totalmente das ações de demissão imotivadas que vem sendo realizadas, deixando cursos sem coordenador e turmas sem aula. E nós, que estamos na linha de frente para prestarmos as devidas informações, ficamos sem saber o que a eles responder”, escreveu Isabel.
O texto termina com um pedido de união, respeito e diálogo, “sem perseguições e ameaças”, pra que a paz volte a reinar na instituição.
Acusações apócrifas contra o presidente
A mensagem da “Carta dos 100 dias” é precedida de um texto sem assinatura com acusações direcionadas ao presidente da instituição. A alegação é que Mohamad Wadi não estaria querendo aceitar o modelo de gestão pedagógica da universidade, entrando em conflito com a família do fundador.
O texto relata que no dia 18 de março, Mohamad teria ido trabalhar com uma equipe de seguranças armados. Segundo o relato, depois disso vieram as demissões, tanto de funcionários gerais quanto de familiares de Artenir Werner, em medida que seria algum tipo de retaliação.
Presidente diz que defende interesses da instituição
Mohamad afirmou à reportagem que as acusações não são verdadeiras, creditando a divulgação a algum funcionário demitido e com interesses contrariados. Ele ressaltou que mantém uma boa relação com a reitora, apesar das divergências quanto às decisões da gestão.
O empresário entrou como sócio na empresa em 2013, após criar os cursos da área de saúde. Ele conta que conquistou a confiança de Artenir Werner e assumiu a presidência da instituição, tendo o fundador como vice-presidente e um amigo pessoal.
“Eu não sei dizer se esse relacionamento dele comigo, que aos olhos de outras pessoas parecia um relacionamento de pai para filho e de filho para pai, o que isso construiu dentro do coração da família...,” analisa.
O presidente acredita que uma parte da família possa ter criado um “ranço” contra ele. Com a morte de Artenir, conta Mohamad, esse grupo teria começado a interferir na gestão da universidade diante de uma suposta expectativa de assumir um espaço maior na instituição.
Mohamad explica que atuou pra defender os interesses da universidade, demitindo cerca de 10 pessoas ligadas às famílias de Artenir e da reitora. De acordo com o presidente, o grupo se recusou a sair e tentou o destituir da presidência, gerando uma disputa judicial. A resistência teria contado com apoio de Arnoldo Werner Neto, filho mais velho de Artenir, que assumiu a vice-presidência no lugar do pai.
No final de março, a justiça manteve Mohamad no cargo, garantindo suas atribuições como presidente. Mohamad explica que, para garantir o cumprimento da decisão judicial, foi até a empresa com seguranças particulares, mas garante que eles ficaram do lado de fora e que não houve ameaças.
"Resistência à profissionalização"
O acordo de acionistas da empresa prevê que, no caso da morte do sócio majoritário, o presidente deve ficar no cargo por dois anos ou até a criação do conselho de Administração. Parte dos herdeiros do fundador seria contra esse acordo e estaria resistindo ao processo de profissionalização da empresa, defendido pelo presidente Mohamad.
As demissões atingiram esse grupo que estaria “jogando contra”, segundo afirma o presidente. O vice-presidente Arnoldo Werner Neto esclareceu ao DIARINHO não haver qualquer briga dentro da família e diz que defende uma gestão com dedicação total à instituição. “Não temos nada contra o Mohamad, sempre apoiamos a administração, mas ultimamente ele está mais preocupado com projetos pessoais”, afirma.
Segundo Arnoldo, as demissões foram arbitrárias, pois deveriam ser tomadas em conjunto com a vice-presidência. Apesar das divergências, Arnoldo informa que o dia a dia da instituição está seguindo normalmente. “Estamos buscando os interesses exclusivos da Uniavan e não pessoais”, finalizou.