Mesmo com algumas vozes destoantes, o saldo da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021 (COP26) foi considerado positivo. Lideranças mundiais saíram de Glasgow, cidade que sediou o evento, otimistas. Isso porque a meta do Acordo de Paris, de 2015, para limitar o aquecimento global em 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais foi mantida. Isso foi considerado uma vitória. No entanto, há muito trabalho a ser feito para que a humanidade chegue ao final do século com esse objetivo atingido.
Avanços podem ser percebidos no setor empresarial, onde antes havia resistência. Bancos, por exemplo, começam a rever suas políticas de financiamento para se tornarem mais sustentáveis ambientalmente. Também estas instituições, a pressão social e consciência ambiental parecem estar pesando, favorecendo a tão almejada transição verde. Mas um ponto ainda preocupa: a falta de um framework claro para que as empresas possam relatar e monitorar o seu impacto sobre o clima. Sem dados uniformes e confiáveis, a tomada de decisões e iniciativas comuns entre diferentes players, segmentos empresariais e instituições fica severamente comprometida.
Em 2013, enquanto estive à frente da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável, lançamos o Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa da Administração Pública Direta e Indireta de Santa Catarina. Esse trabalho nasceu com a marca da inovação e do ineditismo. Foi o primeiro levantamento do tipo realizado por um governo estadual no Brasil. Naquele ano, apenas nove organizações do setor público realizaram estudos semelhantes no Brasil, entre elas grandes empresas públicas, como a Petrobras, Eletrobras e o Banco do Brasil, e a Polícia Federal.
Envolvemos 86 instituições públicas, entre secretarias, institutos e fundações de pesquisa, entre outros órgãos do governo estadual, e 113 servidores foram capacitados para levantar os dados. Em parceria com o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas, utilizamos o método do Programa Brasileiro GHG Protocol. Em 2012, essas instituições emitiram juntas 735.119,00 toneladas de dióxido de carbono (CO2) equivalente.
Quando nossa equipe começou a avaliar o projeto, recebemos muitas sugestões para fazer o inventário no setor privado. Mas o nosso entendimento era que o governo do Estado precisava primeiro organizar a casa e fazer a sua parte antes de cobrar dos empreendedores catarinenses que reduzissem suas pegadas de carbono.
A sociedade catarinense recebeu um grande balanço energético do seu Estado. Naquele momento, o Inventário se tornou um diferencial de Santa Catarina no quesito sustentabilidade – um ativo importante na atração de investimentos. Porém, o que nasceu para ser uma longa caminhada de monitoramento e esforços para a redução de emissões de gases de efeito estufa pela administração pública acabou sendo deixada de lado. Programas com metas de diminuição dos impactos ambientais baseados naqueles dados não chegaram a ser desenvolvidos.
Na esteira do Inventário, entregamos uma série de ações voltadas para a nova economia e a economia de baixo carbono. Hoje é possível ver como a medição das emissões públicas agregou imenso valor ao nosso trabalho. Afinal, só o que pode ser medido, pode ser gerido. A gestão climática pelo Estado precisa voltar à pauta no Estado como política pública permanente. Assim como o setor privado está abraçando a economia de baixo carbono de forma pragmática e inteligente, o Estado precisa fazer novamente o dever de casa e buscar o impacto menor sobre o clima e as mudanças climáticas com programas e projetos inovadores que garantam a saúde do nosso meio ambiente saudável e a qualidade de vida que os catarinenses merecem.