Ansiosos, queremos que as telas nos digam para que lado olharmos, sem consideramos que há vida ao redor. Como habitantes da caverna nem sequer ouvimos o que disse Platão alguns séculos atrás. Categórico demais? Vou tentar começar de outro modo:
Esgotados, deprimidos, tomando remédios que nos mantém acordados, ou nos permitem um perturbado sono, seguimos evitando o silêncio com medo de que a voz que fala lá dentro segrede coisas que nem mesmo nossa mais profunda intimidade ousa escutar. Estamos perdendo nosso mundo. Obscuro demais? Vou tentar dizer com um uivo:
Exigem o que exigiram noutro ano e exigirão no ano seguinte. A agenda continua cheia e meu tempo pede 48 horas para dar conta de um dia na vida de habitante dum país periférico que continua insistindo em dizer que está em desenvolvimento. Ouço isso desde bebê. Ahhh... claro, preciso ir para Cuba, Venezuela e blá blá blá? Vou ser paciente e dizer mais baixinho:
Vive as redes sociais como a única realidade possível. Uma imagem sem espelhos. Não vê o outro, mas somente o reflexo de si. Obcecado por sua vida, apaga a vida ao redor. Doente e maligno usa o pretenso anonimato para agredir, opinar, tomar postura sem nunca... sem nunca ter tocado a mão do vizinho. Essa insistente obrigação de ter sucesso vai matar o que resta de humanidade em cada um dos 7,8 bilhões de seres. Chega? Digo algo mais e ouço o que diz o vento.
Você não brinca com os dias e acata, com mansidão, tudo que vem pronto: engole apressado comidas com agrotóxicos e sementes transgênicas, contribui com o enriquecimento do mesmo laboratório que produz a semente e o remédio vendido na farmácia mais próxima a você. O agro é tóxico. O agro vende doença. Quando o vento sopra só para um lado, a árvore tende a crescer torta. Não vou tentar de outro modo, vou dizer como tenho aprendido duramente.
Sou do tipo que cria laços afetivos com objetos, pessoas e lugares. Não deixo que minha memória seja traída por objetos de vida curta ou relações apressadas. Demoro-me observando um céu quando uma lua nasce tímida. Conto com o tempo para que o silêncio me diga o que me acolhe. Tenho rituais que me dão tranquilidade e ainda escuto música em uma boa rede. Se gosto de surpresas? Aquela chegada inesperada de amigos no portão, com uma boa conversa e muitas coisas lindas para compartilhar. Não sou viciado em atualizações. Sou, admito, compulsivo para ouvir boas histórias, com a calma que elas merecem.
Com o tempo ganhamos serenidade e os dias são de riso.