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Coluna Exitus na Política

Por Sérgio Saturnino Januário - pesquisa@exituscp.com.br

O organismo e a saúde civil


Havia um certo alívio no semblante de todos. Parecia à beira do fim, depois de um longo tempo se enfraquecendo. Por não mais se alimentar de nutrientes e proteínas nos dias que foram de sofrimento, passou a consumir seus músculos, seus órgãos, suas estruturas. A experiência pela qual se passa é uma revelação dos limites e da impotência humana diante do que sempre lhe será inevitável. Agora, há um certo alívio no semblante de todos: o sofrimento se foi.

Como mãe protetora e libertária, educadora e juíza dos seus, era a responsável por resolver os conflitos, conciliar divergências, moderar os diálogos à mesa quando todos se reuniam para avançar sobre a comida. Anunciava a forma e o conteúdo da existência comum, o imperativo do respeito, a existência do que é coletivo. Há uma sensação de vazio, de ausência da vida falada daquela que fora a orientadora das boas condutas, da conciliação das divergências e da institucionalização das formas de relações e estruturas entre os seus.

Seu enfraquecimento vem de longe. A sede incontida e ilimitada pelo poder lhe causou sérias doenças. Nem esquerda, nem direita; nem liberal ou comunista: a relação é com o poder. Poder de decidir orçamentos gigantescos, de ocupar cargos, de vetar encaminhamentos, de direcionar os passos, de sufocar adversários, de retaliar reputações. A revelação se deu, muitas vezes, nos exames rotineiros de imagem. Não era uma adesão ideológica [esquerda ou direita] que aparecia nas radiografias, mas a fixação do poder ao fígado: situação [usuário do poder] ou oposição [abstinência de poder].

Outra enfermidade que lhe fizera perder forças apareceu em hemogramas. Glóbulos brancos, glóbulos vermelhos, plaquetas e plasmas passavam a se organizar em blocos. Cada um tinha interesses próprios e esquecia-se que viviam num sistema orgânico interdependente. Como queriam defender somente sua existência, inchavam o sistema. Era uma doença autoimune, difícil de combater, porque os antídotos eram repelidos pelo “patrimonialismo”: cada parte acreditava-se dona do sistema inteiro. Perderam a noção de conjunto: as partes devem se completar e viver em nome do sistema; cada um só pode estar bem se o sistema estiver bem. O coração não pode gerar bombeamento de oxigênio e nutrientes para si mesmo; ele existe para si e para os outros.

Comprometido o sistema, os seus integrantes ficam, também, comprometidos. Não é possível considerar saudável as partes do corpo que diminuem a força ética e a conduta moral da vida. As atitudes cotidianas, os alimentos que são ingeridos, vão formar as condições de existência do corpo durante sua trajetória. O que se ingere durante o dia e a noite, as informações e as mentiras que se jogam na corrente sanguínea, a preguiça intelectual e a falácia dos entusiastas que aderem ao patriotismo quando há guerra, demonstram as debilidades orgânicas do ser. Hoje e sempre, será sua história a revelar seu Estado.

Internada há dias, usuária de medicamentos que não são eficazes contra seus males, incapaz de combater o vírus que lhe assola, impossibilitada de tomar vacinas pelo medo infantil, com demência impulsionada pela autoridade do cargo, a Saúde Civil lhe escapa. Já demonstra esforço para respirar, já sente dores musculares, já vê a situação lhe adornar o fim e atualmente tem enxaquecas incontroláveis. Vive com medo e agressivo.

É preciso tocar na ferida, diagnosticar as doenças, orientar tratamentos cientificamente adequados, tomar as vacinas, assumir comportamento de saúde preventiva. O combate permanente à doença e a necessidade de viver equilibrado faz jus à fé na vida. Fé na Vida, como “um peregrino que caminha sem parar, um poeta que ninguém pode calar”.


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