Coluna Tema Livre
Por Rosan da Rocha - rrocharrosan@gmail.com
Julgamento
Este mês voltou a tona nas redes sociais e nas grandes mídias, um imenso problema social que é o racismo. Atualmente o mundo está acompanhando o julgamento, nos EUA, do brutal assassinato do cidadão negro americano George Floyd, cometido por um policial que, por quase nove minutos, ficou com o joelho no pescoço da vítima pressionando-o sobre o solo até a morte, enquanto esta não oferecia mais qualquer resistência.
A partir de então em diversas partes daquele país houve manifestações contra o racismo, exaltando a frase “Vidas negras importam”, pois muitos acreditam que o fato só ocorreu porque a vítima era uma pessoa negra.
Aqui no Brasil, semana passada, em um programa de “Reality Show,” um dos participantes, ao ver uma peruca de um homem das cavernas, comparou-a com o cabelo de outro participante, homem negro que possui um corte de cabelo estilo “Black Power”. Foi o suficiente para que nas redes sociais e em vários programas de televisão houvesse uma séria acusação, já condenando que a fala, a comparação, tinha uma conotação racista. É bom esclarecer que o ofendido, no momento da suposta “brincadeira”, não exerceu nenhum manifesto de indignação, deixando para se pronunciar dias depois, quando todos os participantes encontravam-se juntos no programa transmitido ao vivo, em rede nacional para centenas de milhares de brasileiros, o que ocasionou uma revolta daqueles que não concordaram que a situação foi racista e sim uma simples comparação sem conotação ofensiva. Ou seja, o participante supostamente ofensor, foi repreendido e agredido diversas vezes e, a todo momento só repetia a palavra “desculpas”, afirmando que era filho de uma pessoa negra e jamais iria dizer algo que pudesse ofender a raça. Não adiantou, foi eliminando do Programa pelo voto popular.
No primeiro caso, o que está em julgamento é a prática ou não de um homicídio, efetuado em um Tribunal Criminal com as devidas regras legais. Já no segundo caso houve um julgamento sem qualquer critério ou regra de suposta fala racista.
Não se tem a menor dúvida de que no Brasil, a prática de atitudes e declarações racistas são recorrentes e precisam ser seriamente combatidas. Contudo, é preciso diferenciar o que é racismo e o que é liberdade de expressão sem cunho discriminatório ou preconceituoso.
É certo que muitas frases são de cunho racistas, mas para que a pessoa seja responsabilizada criminalmente ou moralmente é necessário haver a intenção, a vontade em discriminar, ofender.
Levantar a bandeira do racismo contra atitude ou expressão que não possui cunho depreciativo, preconceituoso, dificulta a própria causa, pois muitos passam a não entender o verdadeiro significado e as nefastas consequências dessa distorcida e grave percepção social.
Portanto, é preciso ter cuidado ao designar que uma expressão foi ou não racista, ainda mais utilizando as redes sociais e a mídia para censurar, cancelar, xingar e tripudiar no declarante, pois você pode, além de estar cometendo uma injustiça, também praticar crime e, pior, sendo tão ou mais cruel do que aquela pessoa que no seu imaginário estaria sendo preconceituosa quando, em verdade, não foi. Desta feita, ao perceber que a atitude não foi proposital, intencional para depreciar, afrontar e sim feita de maneira ingênua, apenas converse, alerte, corrija, mas lembre-se: “Elogie em público e corrija no particular. Um sábio orienta sem ofender, e ensina sem humilhar”.