Quando findávamos 2019, tínhamos a sensação de amargo, de boca seca de desejos após um ano trágico politicamente. Redução de direitos, desmonte de políticas públicas, ataque às que já estavam em vigor e um festival de atrocidades feitas e ditas por vozes autorizadas com o voto de uma minoria (coisas de uma democracia quantitativa).
Uma nota de rodapé é necessária.
Logo chegou a pandemia, mortes que saíram do terreno sagrado da vida e adentraram a política partidária com suas sombras seguidas de besteiras que negavam a ciência, o bom senso e nossa trajetória de descobertas humanas no mundo da saúde pública.
Como explicar em uma nota breve de 2500 caracteres tantas idiotices, decisões equivocadas e debates desnecessários que partem da negação da vida para chegarem a um terreno desértico sem broto, sem sementes, sem água ou qualquer possibilidade de existência?
Negam a vida quando liberam agrotóxicos, difamam vacinas, taxam livros, liberam armas, discursam contra pequenos produtores rurais, agridem minorias étnicas e gastam horas dizendo piadinhas sobre assuntos sérios para a vida da população. Ridicularizam orientações sexuais e dão força a machistas que se acham autorizados a ceifar vidas femininas em nome de uma honra que nunca existiu.
Uma nota de rodapé é necessária.
A cultura foi enxovalhada, atacada, perdeu direitos e os produtores culturais acusados de vagabundos, preguiçosos e maconheiros. Agredidos por autoridades que estão por décadas dormindo na legislatura, babando em papéis e vociferando tolices como se fossem verdades. Banalizam a leitura e confiam mais em pesquisas no oráculo virtual do que na voz daqueles que estudam, pesquisam, publicam e avalizam pesquisas.
Uma nota de rodapé é necessária.
Esse texto já é absurdo em sua origem. Como chegamos aqui quando é necessária uma nota para explicar a tão complexa vida e suas diversas formas de pulsar? Como chegamos aqui para escrever uma nota que defende o direito à sermos quem somos e expressamos? Como chegamos a escrever uma nota para defender nossos sonhos inclusivos?
Uma nota de rodapé é necessária? Eis o paradoxo quando a vida pede passagem e o ano findado com tantas notícias de desalento.
2021 terá desejos sim porque eles não irão nos vencer.
Fica a dica:
O documentário A democracia em vertigem (Ano 2019. Direção Petra Costa) que dá uma pista para desvendarmos a máquina que define o que é poder e o que é governo. E não é a mesma coisa, acreditem.