1. conforme a norma, a regra, regular.
2. que é usual, comum; natural.
3. cujo comportamento é considerado aceitável e comum (diz-se de pessoa).
A expressão “normal” ganha fôlegos explicativos a partir dos anos 20 do Século XIX. A referência é oposição ao “estado patológico”. Ou seja, tudo que não é “normal” é doença passível de ser trancafiada em hospícios ou prisões. Essa ideia moderna de normalidade transpõe a medicina para ocupar espaço nos discursos políticos e sociais.
Um desvio do normal seria patologia, desequilíbrio, perturbação ou até mesmo definição de superioridade ou inferioridade quando se tratava de etnias. A humanidade precisaria melhorar as qualidades de uma população e eliminar seus “defeitos”, por meio do aperfeiçoamento de suas características raciais e/ou comportamentais.
Ouço todo o dia a expressão “volta ao normal”. Como voltar ao normal quando a realidade já apresentava sinais de doença? Depois de duas décadas do século XXI ainda rondam pensamentos e opiniões que soam antigas. Ainda presencio escolhas e ações humanas que beiram ao paleolítico. Ouço pensamentos estapafúrdios de que esse cronista é comunista por falar em diversidade étnica em um país híbrido. Fico atônito em saber que as telas estão mostrando a que vieram quando estatísticas mostram que, pela primeira vez na história, filhos possuem capacidade intelectual menor do que seus pais simplesmente porque olham o mundo pelas telas sem conseguirem absorver o mundo real. O normal estava doente. Voltar ao normal? Tenho cá meus receios.
Em 2020 me pergunto: do que falamos quando pedimos a volta do “normal”? Pedimos a volta da loucura social pré-pandemia ou desejamos que a humanidade se sensibilize e reveja o rumo? Estaremos nós, humanidade, naturalizando as desigualdades, dependência de hábitos de consumo, permitindo o extermínio de grupos étnicos, mulheres ou negros? O normal, que tanto pedimos, estava diagnosticado com patologias irreversíveis.
A tão solicitada normalidade daria às pessoas a volta à zona de conforto, proteção e segurança falsa. Nós, humanos, acostumamos com tudo. Até com uma dor. Se doer nosso joelho, acostumamos a mancar. Se vivemos com luxo, acostumamos a ponto de ficarmos insensíveis com aqueles que não têm nem o que comer. Acostumamos com excessos de consumo sem ver as consequências no entorno.
Somos movidos pela vida e morte. Mas um detalhe escapa de nossas percepções: a morte pode estar em um refrigerante que te entope de açúcar ou em um fast food rico em gorduras e nada de alimento. Isso faz parte do normal e não é considerado patológico.
Voltaremos ao normal que produz a morte e o caos! Como escapar de tal labirinto?
Normalidade é uma meta que me faz tremer de medo, afinal “ de perto ninguém é normal”.
Fica a dica:
Aumenta o som e ouve “Vaca Profana” com letra de Caetano Veloso gravada no álbum Profana, de Gal Costa, lançado em 1984.