Crônicas da vida urbana
Por Crônicas da vida urbana -
A era do kitsch
Os teóricos sempre procuraram entender como acontecem as alternâncias de densidade ornamental na História da Arte. Assim: depois de um período de rebuscamento e profusão formal, sempre acontece um de sobriedade e racionalidade.
Era assunto de uma das minhas aulas, que tomava duas horas e evidente não cabe aqui, a não ser como introdução à idéia central. O Renascimento é sucedido pelo Barroco, o qual cede vez ao Neoclassicismo. Após ele, temos o Ecletismo, que vai ser substituído pelo Modernismo.
Como todos sabemos, este foi um momento de pureza em todos os sentidos, sem concessões: o ponto de inflexão, era a obra sendo resolvida segundo formas decorrentes das estruturas, das funções, dos materiais. Houve palavras de ordem bastante radicais, tipo “o ornamento é crime” e “menos é mais”.
No entanto, numa época de informação superabundante, descriteriosa e dominada pelos valores capitalistas, fica difícil evitar o caos – que chegou sob o rótulo de pós-modernismo, dando origem a não pouco bate-boca acadêmico.
O que se viu, foi a volta do enfeite – e o fim do bom gosto, tal como era entendido. Mas, ao contrário dos períodos “enfeitados” anteriores, não havia um critério: na arquitetura, tentou-se requentar o vocabulário clássico, sempre poderoso e prestigioso – com escasso sucesso. E a partir daí, os padrões estéticos como que deixam de existir.
Conduzidos pelos veículos massificantes – cinema, televisão, música, publicidade, eventos – ganham ruas e foros de estética alternativa formulações anteriormente rejeitadas, simplesmente como feias, ruins ou de mau gosto.
Era previsível: a alternância do padrão estético está sempre implícita, é imanente em cada momento e, quando há uma brecha, surge, cresce e domina o ambiente. No caso do modernismo, trouxe em seu bojo o kitsch – para o qual os teóricos previram um lugar, mas não que dominasse o planeta rapidamente como aconteceu.
Estamos em plena Era do Kitsch – é o “estilo”, e essa palavra não dispensa as aspas – que marca nosso tempo. Inicialmente sendo sinônimo de mau-gosto, cafonice e falta de critério, foi descriminalizado para ser aceito sem causar espécie – ou, numa colocação macluhaniana, “causar espécie” faz parte de seu percurso na vida moderna.
Evidente que seu domínio não é absoluto, nenhuma estética, mesmo em seu momento mais pleno, domina de forma integral: o momento anterior, no caso presente a racionalidade dos modernismos, continua presente. Da mesma forma que o momento seguinte – que ainda não está identificada – também já está contida nele.
É uma perspectiva pessoal – mas a estética que virá depois do kitsch, será decorrente das questões de sustentabilidade, direcionadas à sobrevivência, cada vez mais ameaçada, do planeta como um todo.