Pingando nos Is
Por Pingando nos Is -
Abusando de oxímoros
Sob o título “Os vilões” a articulista Elena Landau publicou artigo onde faz alusão à obra de Bruno Bettelein “A psicanálise dos contos de fadas”, contendo a afirmação que os personagens dos contos não são bons ou maus ao mesmo tempo, como somos na realidade.
A ambivalência só deverá ser reconhecida após o desenvolvimento de uma personalidade que venha a permitir o entendimento das diferenças entre pessoas e situações.
Evoca a articulista um depoimento do 1º violino da Filarmônica de Berlim apontando a dificuldade de, depois de décadas sob a batuta do maestro Van Karajan, se adaptar a novos maestros com visões distintas sobre a música.
A tribulação permaneceu até a percepção de que as pessoas sentem a mesma música de modo diferente. Não de modo distorcido ou errado, mas apenas diferente. E ao aceitar isto, alargou seus horizontes.
Tal registro atraiu a minha atenção pois, de há muito percebi que muitas pessoas ao assistirem uma dissertação, discurso ou conferência nem sempre percebem o que o orador quis dizer, ao formular uma frase ou expor um pensamento, apenas ouvem o que intimamente querem ouvir e não o que foi dito.
Por isso, o radicalismo das opiniões, tão presentes nas redes sociais e, cada vez mais se traduzindo em palavras de ódio, dogmas tais como um fanatismo político podem catapultar tal violência do mundo virtual para a realidade.
Felizmente já se pode vislumbrar que a sociedade começa a reagir contra esse discurso de ódio, implantado nos comícios e debates de uma liderança política recente a qual, por pregar a discórdia e a separação dos nacionais das diversas regiões deste país acabou por ser defenestrado do poder.
Agora, na sequência, as redes sociais reagem banindo comunidades de apoio ao discurso contra o funcionamento de órgãos constitucionalmente instituídos para o desenvolvimento da governança e funcionamento da democracia no país.
Aguarda-se o próximo passo, o diálogo. Ainda mais agora, quando a pandemia que deveria suscitar entre os atores políticos uma aproximação para alcançar-se o bem comum, parece ter tumultuado ainda mais o emaranhado de ideias, a ponto da adotar-se o alerta de que “não combateremos o vírus com ideologia”.
Buscando ciar um campo de oposição, usam slogans sem nenhum, tais como classificar o seu adversário como “liberal fascista”, um oximoro que junta os que defendem a liberdade de todas as formas, unindo-os com aqueles que querem sufocá-la em qualquer uma de suas formas. O paradoxo não é usado por ignorância dos verdadeiros significados dos vocábulos agrupados, sua afirmação é feita apenas por estratégia, objetivando transmitir uma ideia forte, embora errada.
Tal estratégia tem ainda a vantagem de impedir o surgimento de ideias de centro, destacando-se apenas as formas de extremos opostos. Comunistas e fascistas, bom ou mau, vilão ou herói, petista ou bolsonarista, como se vê, não há espaço intermediário.
Conciliação? Será sempre falsa e, nesse caso, nem por milagre.