Pingando nos Is
Por Pingando nos Is -
Emergência sanitária democrática
Recente pesquisa realizada pelo instituto Datafolha mostra que o apoio à democracia como a melhor forma de governo segue majoritário entre os brasileiros adultos, e na comparação com o levantamento anterior, de dezembro de 2019, o índice cresceu 13 pontos percentuais.
Diante de tão expressiva demonstração de preferência, uma dúvida persiste: “Será que o brasileiro em geral sabe, realmente, o que é uma “democracia”, indo um pouco mais além da definição clássica: “o poder do povo, pelo povo, para o povo”.
O termo democracia de origem grega (δημοκρατία, dēmokratía) quer dizer “poder do povo”. Seu surgimento data do ano 508 a.C., na cidade de Atenas, como um novo sistema político que representava uma alternativa à tirania. Seu processo teve início quando o cidadão ateniense Clisteres propôs algumas reformas que concediam a cada cidadão um voto nas assembleias regulares relativas a assuntos públicos.
Entretanto, fácil é compreender que, sendo do povo o poder de decidir, seria impossível num país como o Brasil, com mais de 200 milhões de habitantes, fazer uma assembleia para discutir uma questão política, como era feito na democracia direta da Grécia Antiga. Já imaginou onde seria feita uma assembleia nacional no Brasil? Como um país de dimensões continentais faria para centralizar toda a população num mesmo local?
Solução: no uso do “poder de decidir” os cidadãos elegem representantes que deverão compor um conjunto de instituições políticas – os poderes Executivo e Legislativo.
Tais representantes eleitos são pessoas que se dispuseram a levar propostas, soluções, discussões da sociedade para o “local oficial de deliberação”. Serão encarregados de gerir a coisa pública, adotando políticas públicas para gestão de obras, serviços públicos, estabelecimento e execução de leis, etc.
Por ser assim, os cidadãos escolhem o seu representante, dentro de uma gama de opções, de acordo com a afinidade de ideologia, de pautas que consideram importantes e a agenda que propõem ser discutida com a sociedade e com os outros representantes, para ser colocada em prática na cidade, no estado, no país.
Essa é a ideia e o que poderíamos caracterizar como “a beleza da democracia” e não aquela praticada pelo deputado Marcos Pereira (SP), presidente do Republicanos para quem: “A beleza da democracia é a capacidade que temos de convencer e ser convencidos pelo diálogo”.
De fato, o diálogo para superar divergências e alcançar consensos em torno do interesse nacional é a essência do regime democrático. No entanto, como parece óbvio, não é desse tipo de negociação que falava o parlamentar, um dos protagonistas do bloco de partidos a que se convencionou chamar de Centrão.
O deputado Marcos Pereira, até agora um dos principais opositores da ideia de adiar as eleições em razão da pandemia de covid-19, foi subitamente “convencido” a mudar de ideia com “argumentos” que têm escassa relação com o interesse nacional.