Pingando nos Is
Por Pingando nos Is -
Ao fugir do mato caímos na capoeira
Na semana passada afirmei, neste espaço, que o Brasil é o país dos sonhos, bizarro e palco constante de contrastes e paradoxos violentos e as vezes até engraçados.
Concluí que somos um povo tolerante, bom, unido, otimista sem, entretanto, abandonar no dia a dia aquele misto de cinismo, de esperteza malandra que nos ensina a fórmula secreta para “dar um jeitinho”, “quebrar o galho”.
Agora, ao tratar de “esperteza malandra”, lembrei-me de um relato que ouvi na infância e que realçava a famosa esperteza dos nacionais, sempre praticando o famoso “jeitinho”, na busca de “se dar bem”.
Não tive oportunidade de verificar a autenticidade do fato que, por ser bizarro, relatarei a seguir.
Contava-se que lá pelos meados do século passado, um brasileiro próspero, instalou-se em Londres e, como é próprio dos “nouveaux-riches” (novos ricos), para demonstrar sua fortuna entendeu de adquirir uma carruagem semelhante à da rainha a qual era tracionada por quatro cavalos brancos.
Logo no seu primeiro passeio, foi abordado por alguém da Guarda Real, retendo o veículo pelo fato de estar em desacordo com a legislação local a qual, por tradição e conservadorismo, estabelecia que na Inglaterra, somente a Rainha é quem poderia desfilar em uma carruagem tracionada por quatro cavalos brancos.
Dias após, o mesmo personagem, foi novamente detido em seu passeio pelo fato de, mais uma vez, estar desfilando em uma carruagem tracionada por quatro cavalos brancos, proibido por ser privilégio da rainha.
Interpelado pela autoridade, justificou que não estava descumprindo determinação legal pois, se o oficial fosse verificar, a carruagem estava sendo tracionada por três cavalos brancos e uma égua da mesma cor.
O relato da “esperteza malandra” veio à memória no momento em que li, a notícia de que: “Weintraub teria chegado aos EUA por Miami, em um voo comercial, e entrou no país com seu passaporte diplomático de ministro”. “A utilização do passaporte diplomático de ministro foi ilegal, além de imoral. É desvio de finalidade”. Uma vez que Weintraub não é mais ministro, mas já chegou ao país, porém, trata-se de “uma situação mais demorada para ser resolvida.”
O ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, de comum acordo com a Presidência da República, refugiou-se nos Estados Unidos para furtar-se de procedimentos administrativos e judiciais a que deve responder. Para sair livremente do país e, entrar livremente no seu destino, teve retardada a publicação de seu ato de exoneração, o que lhe assegurou o direito de usar o passaporte diplomático eximindo-o da averiguação da PF, na saída, e a burla das restrições sanitárias americanas aos procedentes do Brasil. Liberado, o DOU, em edição extraordinária (sábado), publicou o ato de exoneração.
Tal “esperteza” traz à memória o envelope que o “Bessias” deveria entregar ao LI, contendo a sua nomeação para o Ministério, livrando-o da prisão.
Vê-se que na mudança palaciana, “de pato a ganso, houve pouco avanço”. Tudo mau caráter.