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Por Editorial -

Turista do medo


Meiembipe, latitude 27, Santa Catarina, Brasil. Você conhece essa ilha com o tenebroso nome de Florianópolis, em homenagem à saga genocida de Floriano Peixoto. Moro aqui. E daqui viajo de palavra sempre, às vezes de áudio, por toda minha América Latina que tanto amo e pela qual pouco andei. Deste teclado em que agora escrevo, decolo a cada dia com um rumo mais estreitado, a lugares mais determinados. Sem dúvida, minha agência de viagens é imperial. Assim sendo, ela determinou que desde 28 de junho de 2009 passeasse pelas avenidas de Tegucigalpa, visitasse as ruas de San Pedro Sula, fosse até a fronteira com a Nicarágua, voltasse em caravana à capital hondurenha.

Em não poucas dessas viagens me topei com corpos mutilados, pedaços de mulheres violadas, esfaqueados nas montanhas, e até velei uma garota, Santa Wendy da Resistência, que me lembrou Cláudia Falcone de La Noche de los Lápices.

Outra época, outra tortura, outra morte. Mas andei, até ver o David escorregar de uma corda, e fugir salvando o couro com Manuel e Ronny. Vi isso tudo como jornalista, como militante, como internauta, mudo, só, impotente, com lágrimas numa hora, com ironia em outras, com risos desvairados, porém, sem medo.

E depois dos milicos vencerem a primeira batalha, e antes do Zelaya aceitar o convite de Leonel Fernández, tudo mudou com o terremoto. A ditadura do fuzil deu lugar ao genocídio da “natureza?”. E o medo chegou, porque a quilômetros dos estertores teutônicos se me rasgou o coração em mil valas de pranto. De um segundo para outro, minha truculenta agência me comprou passagem para Santo Domingo, República Dominicana. Sou vizinho da morte e do espetáculo espantoso da impiedade, da cobiça, da invasão, da miséria mais atroz e planejada no corpo da minha Pátria Mãe.

Reflito, reconheço e assumo: é diferente a possibilidade de arrebentar um terremoto quando um ser querido, o mais querido por caso, pode sofrer as consequências fatais dessa monstruosidade e num país longínquo, e também muito pobre, por vezes algoz fronteiriço dos haitianos. Lá vou eu, com meu coração amarrado, meus olhos fixos, olhando o chão, as rusgas entre os homens e a terra, as rugas entre os paralelepípedos, as construções coloniais, e me paro, em frente a La Bolita del Mundo, ouvindo a respiração do vento, o voo dos pássaros, os charcos de lágrimas. Lá vou eu, viajando de teclado, rastejando o ser querido sobre os escombros de outro terremoto.

*Jornalista, educador, diretor do Portal Bilíngüe Desacato e correspondente da revista argentina Lamas Medula


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